Joy Division e a Instabilidade Emocional
Quão
pesada pode ser, na vida de cada um de nós, a Música que apreciamos? Aquele
aperto, cada vez que a onda sonora nos “viola” os canais auditivos, sem noção
da dor que nos poderá estar, naquele preciso momento, a causar. O aperto no
peito, quando as vibrações nos batem, com ritmo, com passada pesada e certa,
segura, consistente. Os batimentos cardíacos aumentam. Batida. Batida. Batida…
tremores, suores. As lágrimas que, do nada, nos escorrem pela face. A
indignação, na alma, por tal, pelo acto de tristeza. É Música. É Mensagem. É
Emoção. É Dor e Amor. O céu, escuro, negro e ferido… Preto e Branco, Soturno e
Melancólico. Senhoras e Senhores: Joy Division.
Cada
época, cada geração, tem o seu artista, o seu icone – por mais que este termo
me cause celeuma… - aquele “personagem” que, com todas as suas capacidades e
carisma, postura e mensagem, deixa uma marca em todos aqueles que, dele,
retiram algo mais do que o que nos é dado por este. Eu, que nasci dois anos
após a morte do principal – reza a lenda urbana – membro de uma congregação de
genialidade musical, sujeito deste primeiro aglomerado de palavras, só mais
tarde, na minha formação como Ser musical, tive contacto com a sua música, com
a suas palavras. O impacto não foi, de modo algum, aquele que hoje me persegue
cada vez que a sua voz soa. Soa a cliché, sem dúvida. Os Joy Division são,
ainda hoje, uma banda de nichos. Certo, atingiram um estatuto que, de certo
modo, os coloca numa esfera mais mainstream – no sentido de uma imensidão de
pessoas terem conhecimento da sua existência – mas, incrivelmente, isso não
lhes retira o que quer que seja de valor e de essência. Poderemos sempre
acreditar que, a sua curta existência os privou dessa violação de que seriam
vitimas caso tivessem seguido entre nós, os vivos. Quiçá. Nunca saberemos, e
qualquer que seja a suposição que façamos, será sempre desprovida de qualquer
elemento factual. Que são os Joy Division? Que entidade musical – somente
musical? – se apresenta diante de nós? De novo, e sempre usando a minha
perspectiva do “sujeito de estudo”, facilmente lhes dou um estatuto que vai
para lá da criação musical, mas aí sim, já pesa o sentimento que nutro pelos
mesmos. Cliché, dirão muitos! De novo: quiçá. Quem sabe? Quem pode dizer que o
sentimento que A sente, perante o sujeito, não é efectivamente, real, sincero?
Os Joy Division serão sempre a eterna negritude, a infindável depressão… o
Mundo a branco e negro! Sempre! E, aqueles que se agarram com unhas e dentes, a
eles, quererão algo mais que não isso? Não quereremos nós, uns instantes de
dor? Não desejaremos nós, prolongar o sofrimento que em nós habita? Recordo uma
conversa em que questionava alguém acerca desse ponto: porque recorremos,
sempre e em momentos de dor, a fomentadores/exponenciadores dessa mesma dor?
“Para a vivermos mais intensamente, para a sentirmos com todas as nossas
forças!”, concordei, e sorri… talvez seja essa a função dos Joy Division:
prolongar a dor dos, e nos, seus acólitos. Fazer-nos derramar mais algumas
lágrimas, porventura em busca daquele instante de quebra. Que bela é a dor,
quando nos desperta para aquilo que nos rodeia. Catalizador de dor, de
sofrimento, de angústia. Um grito de ajuda por entre notas musicais e poemas
bucólicos; uma réstea de vida presa a ritmos de dança; espasmos, que disfarçam
a real perturbação do sistema humano.
A
sua música perdurou no tempo, nas várias fases da Vida e da Sociedade, na mente
do Ser Humano e, sempre que este necessitou, na sua Dor. Pois que outra forma
temos nós de curar aquilo que nos faz sofrer, que não com mais Dor? A suave e
desejada auto-flagelação. A ela sempre regressamos, por ela chamamos sempre que
sentimos o solo debaixo dos nossos pés tremer, é nela que encontramos o suave e
reconfortante sentimento da segurança, pois no fundo, aquilo que desejamos, é a
Instabilidade Emocional, e desse modo evitamos confrontar os demónios da mente…
“I've been
waiting for a guide to come and take me by the hand
Could these
sensations make me feel the pleasures of a normal man?”
“Disorder”
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