“Abbey Road”… Genialidade.




Há 37 anos conheci uma rapariga que, entre muitos e muitos ensinamentos, me mostrou o que era Música. Aquelas melodias, saídas daquelas colunas, infiltraram-se de tal modo neste rapaz, que a fome cresceu até se tornar voraz. Muitas horas passadas a descobrir mais e mais, a absorver mais e mais, a aprender mais e mais.

Nessas imensas horas conheci muito daquilo que ainda hoje tenho, como mais precioso, em termos de qualidade musical. Arrisco dizer que sem aqueles ensinamentos a minha persona musical, hoje, não seria a que é e, valendo o que vale, é a minha.

De entre todos os artistas/bandas que descobri, alguns deles passaram a fazer quase real parte daquilo que eu hoje sou. Essa é uma das capacidades da Música: extrapolar o simples facto de ser Música! Não! É muito mais, muito e muito mais. É mensagem, é o embalo suave e eterno.

Um desses marcos no meu crescimento musical faz este ano 50 anos. Uma daquelas bandas que descobri com essa rapariga e que desde muito cedo passaram a fazer parte do meu dia-a-dia. E ainda bem que assim foi, pois lá está, e repito-me… sem eles não seria aquilo que hoje sou. “Abbey Road”, dos imensos The Beatles, é o 12.º álbum de estúdio do quarteto de Liverpool. Talvez este não seja um álbum que muitas vezes seja mencionado como sendo dos melhores trabalhos da banda, mas para mim é sem dúvida alguma, especial. Do seu alinhamento faz parte aquela que é, quiçá, a melhor canção/dedicação de amor que já tive a oportunidade de escutar: “Something”. Escrita por aquele que era, e isto de um modo como juvenil, o meu Beatle preferido.

George Harrison era um génio muito pouco valorizado, acabando por ser remetido para um segundo plano em detrimento da dupla Lennon & McCartney. Incrivel. Não que os referidos não sejam, eles também e à sua maneira, génios… mas o Harrison, o Harrison!

Os Beatles sempre foram, na minha maneira de ver, das bandas que mais cresceu ao longo de toda a sua existência. De um “Help!” passamos para um “Sgt. Peppers…”, a milhas de distância um do outro! Mais do que isso é toda a aura que, ainda em criança desconhecedora de tudo e mais alguma coisa, se criou à volta dos mesmos. A morte do John 2 anos antes do meu nascimento, as músicas mais “pesadas e escuras”, em comparação com outras imensamente alegres e felizes! As capas dos LPs… imensamente hipnotizantes. Ainda hoje mantenho a missão de espalhar o evangelho da banda, sempre que possível. É absurdo a quantidade de gente que limita a banda a um “All you need is Love” ou “Jude”… em nada representativas da qualidade da banda.

“I Want You (She's So Heavy)”… aquele encerro é genialidade pura. A banda que passou de usar fato e gravata a gravar uma música como esta. A adoração é praticamente impossível de passar para o papel com a devida exactidão. Exagero? Quem sabe. Hey, “Here Comes the Sun”… Harrison, who else?!

The Beatles levam-me às lágrimas por razões que, para muitos daqueles que lerem estas palavras, são desconhecidas. Não necessitais de as saber, já que aqui acabam por ser acessórias, secundárias, desnecessárias. A banda, essa, é o centro deste pequeno Mundo, desta esfera em que pouco mais interessa, para lá da Música que os quatro compuseram e que a nós nos transporta para níveis emocionais muito longe daqui, muito acima – ou abaixo – das nossas crenças espirituais ou mesmo emocionais.

Ah, “Abbey Road”. Tão triste e, ao mesmo tempo, tão cheio de energia e luminosidade. Cada uma das composições vive num estado emocional diferente da anterior. É, sem dúvida alguma, uma viagem deveras interessante. Há desgaste, há um recarregar de paixões e vitalidade. É Beatles. Há quem diga que ou se odeia ou se ama… a banda, claro está. Não vejo assim. Talvez aquela rapariga de há 37 anos conseguiu que a paixão viesse como algo natural… como ouvir Música.

50 anos… ou quando a idade torna a beleza ainda mais bela. Obrigado.

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