Isto não é um conceito, é um enigma.
15 de Junho de 2019. 40 anos de genialidade, depressão, negritude.
Há
40 anos, neste preciso dia, era editado o primeiro álbum de quatro rapazes da
industrializada e cinzenta cidade de Manchester, em Inglaterra. Ian, Peter,
Bernard e Stephen, mais conhecidos por Joy Division, editavam “Unknown
Pleasures”, pela Factory Records de Tony Wilson e Alan Erasmus, dando assim
início ao culto que ainda hoje vive, forte.
Editado
dois anos após o tremendo EP “An Ideal for Living”, “Unknown Pleasures” veio
agitar a estrutura da cena musical de então. A significância de tal trabalho
musical é imensa e ecoa para lá daqueles 38 minutos e 22 segundos de duração,
muito para lá daquelas 10 músicas, muito mais além daqueles quatro rapazes,
totalmente indiferentes ao impacto que a sua criação teria na sua e nas
gerações vindouras. A sua relevância musical, essa, será eterna, a concepção
musical é magistral, intocável, revolucionária.
Consegue
ser engraçado pensar que, alheios ao que tinham em mãos, estes quatro rapazes o
admiraram com inocentes olhos, sem noção alguma que estavam, assim, a dar
origem a algo revolucionário! Será demasiado afirmar tal? Será deveras perigoso
olhar para este “Unknown Pleasures” e para os seus criadores como algo
efectivamente revolucionário para o mundo da música? Atenção, nunca será
retirado qualquer valor a Siouxsie and the Banshees pela gestação do género
Pós-punk, ainda que tenham sido os Joy Division a levar o termo mais longe... Mas
quem raio quer saber de rótulo? Isto é Arte! Curiosamente, no mês anterior à
edição deste álbum, os The Cure editavam “Three Imaginary Boys”, também ele
revolucionário à sua maneira, também ele recheado de Escuridão… ainda que rica
em Luz.
A
fórmula pode, à primeira vista, parecer simples e desprovida de qualquer marca
de vanguardista, mas o tempo acabou por dar razão ao Sr. Tony Wilson e
considerá-la– e as demais criações de Joy Division – como algo singular e
especial.
Mas
que detém afinal, “Unknown Pleasures”, para que nós, aqueles que com ele nos identificamos,
de tão importante e significativo? Toda a música de Joy Division é como que
aquela Alegre Depressão. Aquelas melodias que nos arrastam e arrastam e
arrastam… sem vez alguma dar descanso. É um flagelo emocional tremendo. É um
peso que nos esmaga e nos quebra. É o algo, lindo, e que somente nos dá Dor e
Sofirmento…
Como
explicar que esta Desolação nos coloca um sorriso no espírito? Como fazer
sentido? Valerá a pena tentar, para satisfação dos outros, explicar algo tão
Precioso e tão Belo? Não. Arrisco dizer que não seríamos capazes de o fazer,
nem que assim desejássemos. Não queremos. Preferimos sentir-nos a sufocar
durante estes 38 minutos e 22 segundos, deixar-nos embalar pelo baixo do Hook,
pelas arrastadas e quase lúgubres linhas de guitarra do Summer, os ritmos
cadentes e extremamente ritmados de Morris e aquela voz, daquele que viria, no
ano seguinte a tornar-se um ícone caído. Isto tudo, ligado a sintetizadores e
experimentações até então não vistas – ou ouvidas – e ao génio que foi Martin
Hannett, fizeram deste álbum e destes quatro rapazes de uma cidade do Norte de
Inglaterra, uma cidade escura e penosa, madrasta e esclavagista, uma Luz no
meio daquela imensa Obscuridade.
“Where
will it End!”
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