O Visceral e o Artístico…




Sobejamente conhecidos pelo álbum “Nevermind” de 1991, os Nirvana em tempos foram uma besta muito mais descontrolada e visceral. “Bleach”, que cumpre 30 anos, mostra a banda a fazer o som que permanecerá para sempre, para mim, como o som Nirvana. Cru e despido de subterfúgios. Despojada de qualquer enfeite de mercado. São Punk, são sujos, são assim… São os Nirvana que escaparam a muitos, a todos aqueles que se deixaram arrastar pela febre da MTV, cegos pelos singles que lhes eram lançados à cara sem contemplações.
Com uma produção muito mais crua que o seu sucessor, e com o intuito de passar, para fita, a essência da banda, “Bleach” continua a ser o segredo mais bem guardado da discografia dos Nirvana. Dono de uma dinâmica que não seria novamente seguida pela banda, este conjunto de músicas fomentou a força que era a banda, e dava início à escalada que teria o fim que o Mundo bem conhece.
“Bleach” soa-me sempre tão simples, tão mais puro que o “Nevermind”, menos regido pela necessidade de criar impacto, ainda que tenha criado, e muito. No fundo, os Nirvana nunca perderam o cerne Punk, aquela veia de dar, a todos aqueles que os viam, o que raio lhes saísse naquele momento! “Bleach” é isso, de certo modo. Não tem aqueles singles tão desejados pela MTV – hey, “Smells…”! – mas tem um coração tremendo, tem uma energia que, como refiro ao início, nunca voltarei a ver em Nirvana, pelo menos não neste estado tão bruto.
Cada vez que regresso a este trabalho questiono-me sobre a razão que leva a maioria do pessoal a pô-lo num degrau inferior ao “Nevermind”, aliás, não compreendo a hype à volta deste, mas oh well… Cobain. Novoselic. Channing. Power trio. Estes três rapazes, imersos em Black Flag, Black Sabbath e The Melvins, criaram um som que viria a deixar mazelas e, juntamente com muitos outros, daria origem a uma sonoridade característica de Seattle…
“Bleach” é aquilo que nos é posto à frente dos olhos e nada mais! Não pretende sê-lo. Não há aqui pretensões de tours, de contratos milionários, de ser a “next big thing”. Não. Não há. Há, sim, a fome de fazer música, de tocar música, de dar música a uma geração sedenta de algo com que se pudessem identificar. Não era a cena Glam, não era a cena Hard Rock, para muitos não era a cena Heavy Metal! Muitos não se sentiam musicalmente incluídos, naquela sociedade, por qualquer um dos géneros existentes. Os Nirvana e os restantes músicos de Seattle vieram preencher esse vazio, essa geração, que vivia e que pedia, a plenos pulmões, por algo que lhe desse uma razão para gritar! Camisas de flanela e Chuck Taylor, jeans rasgados e todo um semblante dormente. The New Generation had Awaken. E assim foi. E muita “culpa” terá este álbum. Os entendidos dirão que foi o “Nevermind” e eu não debato, sequer, a relevância do mesmo, mas não consigo deixar de olhar para este trabalho e dar-lhe o real valor por tudo aquilo que lhe seguiu. Não temos que ser os primeiros a levar a cabo uma acção ou a conceber algo para sermos o catalisador que despoleta uma reacção, basta fazê-lo com impacto e honestidade…

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