Que raio foi o Grunge (ou como eu até me senti parte da onda, ainda que fosse um pirralho ranhoso)?!



O Estado de Washington - particularmente Seattle - nos anos 80, fervia em criatividade musical. Cidade chuvosa, escura, depressiva, viria a ser o berço de um género musical que, em certa medida, viveria bem as características do berço. O Punk dos Black Flag, naquele momento, fugia das bases do género, adquirindo tonalidades mais escuras e arrastadas. De certo modo o género nasceu aí: um misto destes, com a raiva visceral do Punk mais cru e despojado de “qualidade de som”.


Green River – mais tarde Mudhoney – seriam a base a partir da qual mais e mais bandas ganhariam corpo e exposição. Não esquecer o King Buzzo e os seus The Melvins, que ainda hoje mantém aquela sonoridade muito... Seattliana! Muitas mais bandas viriam e fariam aquele som podre e cru, lento e pesado... lá está, Black Flag & Black Sabbath in a nutshell. Redutor?! De modo algum! A visceralidade de um, combinado com a lentidão de outro, ufff...


Eu estava longe, quando o género rebentou. Tomei contacto com o mesmo, anos mais tarde, já numa pré-adolescência. Recordo os clips, os unpluggeds, as capas de revista, as mortes e os números de vendas, e recordo Nirvana no Dramático de Cascais. Coisas assim, pequenas e que anos mais tarde ainda fariam mossa. Marcou uma geração, sem dúvida. Recordo as ruas e os fãs, e o impacto num garoto que não tinha ainda 10 anos! A música chamava por nós. Não nos identificávamos - falo por aqueles que me rodeavam – com a componente lírica presente na música. Éramos muito novos para saber que raio era a depressão, a angústia, o abuso, o isolamento e o sentires-te totalmente desconectado do entorno em que vives, mas conseguíamos apreciar a sonoridades, as vozes destruídas, destroçadas. Olhando hoje para esses dias, é fantástico ver que vivemos uma era musical como poucas. No decorrer dessa era as drogas pesadas marcariam uma posição e o género em si.


Por esta altura o Glam Metal/Rock e o Hard Rock eram líderes da tabela, capazes de destronar o maior ídolo da Pop – well, not quite... - e encher arenas imensas. Era Música alegre, Música com vida, Música tão falsa que quase se via o rímel dos músicos a escorrer por suas caras abaixo.


Bandas e mais bandas. O fim dos anos 80 trouxe o real boom do Grunge. Soundgarden, a primeira banda da vaga – mainstream – a assinar um contrato. Excelente! Mas isso está tudo em todo e qualquer motor de busca na World Wide Web, e não é isso que se pretende com esta pequena missiva. Num ano em que um dos mais perfeitos trabalhos, feitos por uma das maiores bandas saídas desta vaga de Seattle, cumpre 26 anos, faz todo o sentido que eu, na altura um mero ouvinte do género, decidisse explanar um pouco sobre os sentimentos que na altura nos tomavam, e os resultados, anos e anos mais tarde. Em 1991, quando saiu aquele que é, por muitos – e pela crítica dita especializada – considerado como O Álbum que melhor representa o género, eu tinha 9 anos de idade. Nirvana, que com o lançamento de “Bleach” abanaram as estruturas da cena underground Norte-americana, viriam a atingir um estatuto estupidamente elevado para uma banda saída daquele pardieiro! “Nevermind” destronou Michael Jackson dos tops, for fuck’s sake! Mas suponho que isso seja do conhecimento geral. E foi este álbum que elevou aquela cena musical, a uma realidade mundial... (sendo que o melhor deles será sempre o “Bleach”, bitches)


E era Grunge?! Recordo ter tido uma conversa, não há muito, com um amigo, e tocarmos nesse ponto: tudo aquilo que saia de Seattle era Grunge ou o Grunge foi – e é - realmente um género musical com vida própria?! Uma das minhas bandas favoritas, saídas da cena de Seattle, surgiu anos antes do género, morreu antes do mesmo ganhar asas e não estavam perto do que o Grunge era musicalmente – e esteticamente, já agora. Mother Love Bone. Normalmente esquecidos, ignoradas, desconhecidos (?), editaram um único álbum (“Apple”) e terminaram assim que o Andy morreu... de overdose. E isto seria algo que se tornaria recorrente, de certo modo. Hard Rock e Glam Rock, estas eram as bases do som da banda. Nada tinham de Grunge. Eram “coloridos” e “divertidos”, em nada comparados com uns Soundgarden (os dois primeiros álbuns, obrigado)! Daí a minha questão: é o Grunge somente um género ou a simples nomenclatura dada à cena musical de uma cidade? Redutor? Quiçá, não digo que não.


Alice in Chains, Pearl Jam ou Nirvana, por exemplo, todas saídas da região de Seattle, mas todas diferentes. Umas mais Heavy Metal/Hard Rock, outras mais Rock n’ Roll, outras mais Punkish, todas tinham uma identidade muito própria, muito fácil de identificar, de certo modo. Os media acabaram por, como passa nos mais variados fenómenos sociais, necessitava de rotular, de catalogar, para entender melhor que se estava a passar. Acabou por ser necessário, tal era o fuzz que se vivia naquela altura. Recordo certos momentos que se tornaram marcos: o Unplugged de Nirvana – ainda que o de AiC seja o melhor de todos os tempos – e a morte do Cobain. “Smells like Teen Spirit” levou o Grunge para a casa de todos, através da MTv. Soundgarden, com a “Black Hole Sun”, fez o mesmo. O Grunge era, agora oficialmente... mainstream! Bom, mau, assim, assim. Cada um avalia e analisa como bem lhe apraz. Eu, pessoalmente, ainda hoje mantenho uma opinião muito franca acerca do género. Back in the day, teve um imenso impacto no meu crescimento musical, ainda que para muitos a “Era Grunge” tenha sido vergonhosa, no campo musical, veio mudar a perspectiva que muitos tinham acerca do lugar – e quiçá função - da Música na Sociedade.


Guns n’ Roses, The Beatles e Queen, por exemplo, eram a banda-sonora da minha vida. Herança maternal, assim se manteve – e mantém - durante anos e anos, até que surgiu o Grunge. Impactou. Fez mossa e fez-me olhar para a criação musical de outra forma. Os músicos eram sleazy and dirty! Barulhentos e furiosos. Isso não se via nos supracitados! Não havia raiva e descontentamento. Counter-culture action! Hey ho, let’s go! 


O Grunge tornou-se moda, anos mais tarde. Chuck Taylors, jeans rasgados, camisas de flanela aos quadrados e cabelo seboso. Imagens de marca do género, em tudo sacado da prima-donna do mesmo: Kurt Cobain. Ele, tal como a sua música, elevaram o Grunge do mero estado de género musical, a algo vivido de um modo muito mais... social. Era roupa, era postura perante a Sociedade e era Música, porque no fim, era Música.


Morreu em 1994, quando um jovem louro, amado por milhões, que odiava aquilo em que a sua vida se tinha tornado, supostamente deu um tiro na cabeça. O género morreu com a queda do seu “dono”. Efetivamente, e se olharmos bem para a época - demasiado curta, afinal – veremos que não se tratou de algo mais que um fenómeno social associado a uma revolução musical. Uma revolução contestatária. Não se contestavam problemas de interesse para uma parte da Sociedade, mas muitos jovens, até então órfãos de tribo, encontram ali, no Grunge e em tudo aquilo que o rodeava, uma Casa. O Grunge era uma criação musical que, numa primeira instância, soava simples e direta, agarrou muitos que estavam fartos de devaneios proggy ou demasiado guitar solo driven! O facto de o Punk ser imediato e visceral, adicionou o combustível a uma geração que já estava em chamas! Sangue, suor e tudo o mais, eram elementos com os quais os jovens se identificavam. O serem ostracizados pelos seus pares, quando não usavam a roupa X ou não jogavam American Football e o raio, o serem introvertidos e não se reverem na Sociedade que os rodeava, veio também ajudar. Seattle é, pelo que já todos vimos em 664758696060 documentários sobre o Grunge, um sítio que facilmente nos arrasta para o fundo... e a Música aí criada reflete – repito-me – o entorno.


Todos, no seu dia, desejaram um pouco do que o Grunge tinha para dar e não se coibiram de "ordenhar a vaca". O movimento que pretendia expressar um sentimento transversal a toda uma geração, acabaria, anos mais tarde, por ser uma trend que chegaria a desfilar em diversas passerelles pelo Mundo fora, a ser capa de revista e a ser, como muitos outros géneros musicais ou movimentos sociais, mais um. Para concluir, deixo-vos um link (ou dois) referente ao tema e a como outros olham para o mesmo - neste caso: bandas e álbuns essenciais. Discordo da maioria, mas isso sou eu, que discordo de tudo e umas botas!

www.liveabout.com/top-most-influential-seattle-bands-289840

www.rollingstone.com/music/music-lists/50-greatest-grunge-albums-798851/


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