Omitir – "Ode" (2020 Loudriver
Records)
Omitir,
Gróvio ou Joel Fausto, todos os mesmo e cada um, uma personificação do sentimento
tão nosso, tão português, tão aquele Fado que nos persegue e nos arrasta
consigo. Omitir, foi, durante tempo a mais, como que ignorado, esquecido,
preterido em detrimento de outros. Falhas imensas que o Ser Humano comente em
prol da sua satisfação imediata, da sua satisfação efémera. Nunca Omitir foi de
fácil absorção e de imediato efeito; nunca Omitir foi de linhas rectas e
marcadas, nunca Omitir foi algo mais. Omitir foi sempre mais que algo; Omitir
foi sempre um emaranhado de doces e sofridas melodias que insistiam em nos
levar consigo, para longe, atordoados por aromas campestres com vista para o
rio; Omitir foi sempre uma sessão de concentração e de exploração, nunca nos
foi apresentado em toda a sua plenitude, mas sempre nos obrigou a percorrer os
seus longos corredores na esperança de chegar à luz que alimenta este
empedernido coração.
"Ode"
chega-nos em 2020, ano de realidades que nunca conjecturámos experienciar. É nestas
alturas que o melhor sai de dentro de nós, e em muitos casos se retrata nas
criações que concebemos. "Ode" é o mais novo trabalho de Omitir, ou
de Gróvio, ou ainda de Joel Fausto, mente por detrás de tudo aquilo que é
Omitir. Concebido em 2007, após o término de Bahamut – ou como continuação do
mesmo – Omitir desde logo marcou a sua posição como poucos. A singularidade da
sua sonoridade é facilmente reconhecida ao longo da sua já longa discografia,
tendo a mesma muito daquele sentimento que eu, pessoalmente, associo a
Portugal. De longe esta ideia ter qualquer base nacionalista, sendo que a mesma
advém daquela emoção que nós, os portugueses, colocamos nos nossos actos e
ideais. Um pouco à semelhança do Fado e das suas linahs estruturais, com uma
larga tendência para a Morte e a Tristeza. Tal como Defuntos, também Omitir nos
direcciona para uma tristeza bucólica, uma solidão afável. É um som rico em
camadas, rico em detalhes, rico em construções…
"Ode",
por fim. Editado pela Loudriver Records (tal como Forgotten Winter) este novo
álbum de Omitir é o pináculo da sua criação, na minha opinião. Chegámos a um
ponto em que a dor que sentimos se confunde com as melodias criados pelo
músico, em que as lágrimas que escorrem, são de alegria. O contemplar da obra,
finalizada, enche-nos o peito de orgulho por a considerarmos, nossa. Esta ode é
nossa, é uma ode a tudo aquilo que nos rodeia. A ligação quase umbilical a uma
realidade rural, a um afastamento deste Mundo moderno, é algo que carregamos dentro
de nós. A Revolução Agrícola que vai para lá da libertação do Homem, mas também
da libertação do espírito que vive dentro desses homens. Melodias que nunca nos
soarão longas, monótonas ou desoladoras. Queremos esse sentimento, queremos
erguer o punho e libertar o grito que nos aperta o peito e nos asfixia a Mente.
Ode a um caminho que se faz devagar, pausadamente, mas consciente das
dificuldades, consciente do que nos espera…
Recebidos
com o tradicional acordeão, com as prosas dos poetas que sentem a Morte como
sua, estes 6 temas preenchem as almas dos que se sentem vazios. Com o belo
detalhe de contar com as palavras do Secretário-geral do Partido Comunista
Português na "Vera Busca", sentimos uma maior proximidade com a alma
nacional, com aquele sentimento de Morte que nós, os portugueses, tão bem
carregamos dentro de nós. 6 temas, que em nada são longos, e em tudo são
viagens, pela psique do Homem e pela vivência do mesmo. O ponto mais alto da
criação, mais uma vez. Belíssimas atmosferas e estruturas, no geral. Que mais
dizer? Nada mais. Que a vida siga o seu caminho e que esta "Ode" seja
a expressão musical de muitos mais, por muito mais tempo.
ENGLISH VERSION
Omitir, Gróvio or Joel Fausto, all
the same and each one, an embodiment of the feeling so ours, so Portuguese, so
that Fado that chases us and drags us with it. Omitir was, for a long time, as
if ignored, forgotten, passed over to the detriment of others. Immense failures
that the Human Being comments in favor of his immediate satisfaction, his
ephemeral satisfaction. Never omitting was easily absorbed and immediately
effective; never to omit was of straight and marked lines, never to omit was
something more. Omitting was always more than something; Omitting was always a
tangle of sweets and painful melodies that insisted on taking us away with us,
stunned by countryside aromas overlooking the river; Omitting was always a
session of concentration and exploration, it was never presented to us in all
its fullness, but it always forced us to walk its long corridors in the hope of
reaching the light that feeds this hardened heart.
"Ode" arrives in 2020, a year of realities that we never thought to experience. It is at these times that the best comes out of us, and in many cases it is portrayed in the creations we conceive. "Ode" is the newest work of Omitir, or Gróvio, or even Joel Fausto, lying behind everything that is Omit. Conceived in 2007, after the end of Bahamut - or as a continuation of it - Omitir immediately marked its position as few. The uniqueness of his sonority is easily recognized throughout his already long discography, having the same feeling that I personally associate with Portugal. By far this idea has any nationalist base, and it stems from that emotion that we, the Portuguese, place in our acts and ideals. A little like Fado and its structural lines, with a wide tendency towards Death and Sadness. Like Dead, Omitir also directs us towards a bucolic sadness, an affable loneliness. It is a sound rich in layers, rich in details, rich in constructions…
"Ode", finally. Edited by Loudriver Records (like Forgotten Winter) this new album by Omitir is the pinnacle of its creation, in my opinion. We have reached a point where the pain we feel is confused with the melodies created by the musician, in which the tears that flow, are of joy. The contemplation of the finished work fills us with pride for considering it our own. This ode is ours, it is an ode to everything around us. The almost umbilical connection to a rural reality, to a departure from this modern world, is something we carry within us. The Agricultural Revolution that goes beyond the liberation of man, but also the liberation of the spirit that lives within these men. Melodies that will never sound long, monotonous or heartbreaking. We want that feeling, we want to raise our fist and release the scream that tightens our chest and chokes our Mind. Go down a path that is walked slowly, but aware of the difficulties, aware of what awaits us...
Received with the traditional accordion, with the prose of the poets who feel Death as their own, these 6 songs fill the souls of those who feel empty. With the beautiful detail of counting on the words of the Secretary-General of the Portuguese Communist Party in "Vera Busca", we feel a greater proximity to the national soul, with that feeling of Death that we, the Portuguese, carry so well within us. 6 songs, which in no way are long, and in everything are journeys, through the psyche of Man and through his experience. The highest point of creation, again. Beautiful atmospheres and structures in general. What else to say? Nothing else. May life follow its path and may this "Ode" be the musical expression of many more, for much longer.
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