Projectos descabidos, de uma mente (nada) desafogada de preocupações…


A distância geográfica nunca foi razão para a não criação artística; o isolamento não evita que o artista, seja ele quem for, crie e evolua a sua capacidade criativa, evoluindo assim aqueles que o rodeiam. Por vezes o isolamento leva ao exacto oposto: um desenvolver de movimentos artísticos incomparáveis.

Bragança, anos 90. Não há internet e o contacto / intercâmbio entre jovens com os mesmos gostos, mas em zonas geográficas distantes, é inexistente (posso assumir, certo?). Há rádio, há MTv aqui ou ali – mas raríssima – há o "Blitz", que muita informação levou a muitos jovens, e há as revistas alemãs e o camandro. Resumidamente: há quase nada. Não senti isso de um modo tão bruto durante os meus anos na Margem Sul porque, obviamente, estava "relativamente" perto da Capital. E digo "relativamente" porque Lisboa para nós, na altura era, quase uma outra zona do país!

Bragança não viveu a mesma realidade que Lisboa, seguramente. De certo modo ainda o senti, ligeiramente, quando lá cheguei em 97, mas isso já foi anteriormente tratado – ver arquivo, sff. Por vezes o distanciamento mental é imensamente superior ao físico. A realidade social em que o Ser se insere pode, ainda que viva nesse isolamento / distanciamento, "crescer" para lá dessas barreiras / condicionantes, e é aí que surgem os casos que tomamos como brilhantes… ou acima da média… ou muito bons, que isso agora já depende da real qualidade e do gosto (ou falta dele) de cada. Regressemos a Bragança e ao final dos anos 90, quando havia música naquela cidade escondida lá longe, para lá do Marão! Regresso sempre a Sound Advice e a sua primeira Demo (creio já ter colocado esta questão ao João). A inocência quase palpável, seja nas estruturas, seja nas letras, seja na criação como um todo, são deliciosas. Mostra um grupo de jovens que, imersos no marasmo de uma típica cidade do Interior, saem da caixa em que muitos se encontravam, e avançam para a criação, para o extravasar de ideias e emoções do modo que melhor entendem como seu, aquele que mais facilmente se lhes apresenta: a Música. Falamos de Punk Rock, pelo que queremos o quê? Simplicidade e exactidão. É o que temos? Sim, considero que sim. Mas, mais uma vez, isto já foi falado... ide ler os posts, calões.

"Umbilicamente" ligado a estes está uma ideia que há já muito habita em mim: o fazer / tentar por reunir o máximo possível de informação / gravações e o raio, das bandas que compuseram a cena musical alternativa dos anos 90, em Bragança. De certo modo a mesma foi bastante superior à Movida Madrileña, coño… ou não. Ainda assim, e não ignorando a paixão que tenho pela criação musical, considero que estes tesouros deveriam ser reunidos e dados a conhecer a toda uma geração de garotos que, muito provavelmente, desconhecem aquilo que veio antes deles e que, arrisco dizer, pavimentou o caminho para alguns deles. Não os tomemos como Messias, mas sim como o pessoal que fez por quebrar as barreiras culturais / sociais que inpediam que algo mais se formasse. Ok, com isto não quero assumir que um rapaz de cabelo comprido, em Bragança, em plenos anos 90, era ostracizado e inferiorizado – as calças elásticas é outra cena ahahah – mas arrisco dizer que aos olhos de muitos, certos preceitos e condutas eram condenados.

Mas a Música rompe com estigmas e coisa e tal, e o pessoal cresce, corta o cabelo, veste camisa e avança com a sua vida, "isso é da idade", quantas vezes terá este sermão sido rezado? Demasiadas, demasiadas. Não que hoje seja diferente, sejamos sinceros. Mas não é de hoje que falamos, é de ontem, bem lá atrás no tempo, no início de uma adolescência, de uma fase de descoberta e integração. A Música veio ajudar a criar laços que se fortaleceram com o passar dos anos, a atingir certos projectos e ideias. Não sei, por vezes levo a mão à cabeça e questiono se esta ideia fará algum sentido. Era fofo, disso não há dúvida; possível? Isso já é outra questão, claro; há interesse em tal? Eu tenho, e a mim basta! Sei que alguns dos intervenientes teriam todo o gosto em ver aquilo que conceberam chegar ao pessoal mais novo, muito dele desconhecedor do que foi feito quando muitos deles ainda andavam… a passear, se é que me entendem (suas mentes sujas, pfff).

Assim sendo, e ao sabor do vento – forte da zona Oeste de Portugal – segue esta ideia que poderá facilmente tornar-se um pesadelo intransponível, denso e carrasco. A ver vamos, a ver vamos. Haja Bragança, haja Música, haja paciência…






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