Raging Against the Machine     


Há uma série de semanas que tenho ouvido o 1.º álbum com bastante regularidade. Esta é uma das coisas belas da Arte em geral (ou da Vida): por mais tempo que passe, um regresso a algo que foi, no Passado, querido, é sempre um regresso carregado de felicidade.

Recordo, com alguma nitidez, quando ouvi este álbum pela primeira vez. Foi através de um amigo, cujo irmão o tinha gravado em cassete, cassete essa que chegou a mim, ou cassete que me foi gravada. Eu disse que era com alguma nitidez… whatever! O álbum saiu, tinha eu 10 anos, e nesta altura, pessoal novo e inexperiente, a Música era vivida de uma forma bastante diferente da vossa!

"Sediado" na Margem-sul, estávamos disponíveis para absorver todos os géneros que nos fossem dados a conhecer: do Rock ao Rap, do Heavy Metal ao Pop (bom), aquele bairro viva, musicalmente, de uma diversidade que não recordo ter visto em outro lado. O Rap começava a crescer em Portugal, e o seu berço foi ali perto, a quilómetros, à distância de um passeio sem o conhecimento dos progenitores. Belos dias, belos tempos, em que "não havia" perigos ahahah de regresso: sendo o Rap uma presença na nossa dieta musical, não foi com espanto que recebemos as vocalizações de Zack de la Rocha, camarada e activista. Líricas que só muitos anos mais tarde conseguimos perceber, entender o sentido e a força que as mesmas ainda hoje, em 2021, têm. É aí, se posso ser sincero, que de certo modo reside a força do grupo, aquilo que os mantém relevantes. Ok, ok, o Morello é um fora de série, um "extraterrestre" de guitarra na mão! Inegável. Mas a mensagem que a banda tinha – e tem – nos anos 90, está mais que actual, mais que relevante. Urge obrigar os putos a sessões extensíssimas de RATM, acompanhados de livros de História e de História Política, Lenin e Marx, Ché e Zapata… Saramago.

Musicalmente falando, foi o 2.º contacto que tivemos com este híbrido de Rock e Rap, já que não nos podemos esquecer do "Walk this Way", dos Aerosmith e RUN DMC, claro! Ainda assim… nada a ver, como dirão os mais novos. E nada a ver mesmo. O Rock dos RATM  é diferente, é próprio, é identidade. E este álbum em específico é fortíssimo, é viperino, incisivo, perfura  coração com a carga ideológica que carrega. Caramba, no campo instrumental / musical, é um marco dos 90, aquela geração que os metaloleiros insistem em considerar uma das piores de sempre para a Música em geral e para o Heavy Metal em específico. Oh well, a senilidade nos arrasta para o poço da ignorância.

De princípio ao fim temos temas e temas, cujas líricas, ainda hoje, 29 anos depois, estão na ponta da língua. Muita confusão faz, este grupo, a muita gente. A constante acusação de viverem dentro do sistema que dizem odiar, a associação – assumida – a políticas de Esquerda, o apoio a figuras que merecem todo o nosso apoio – Liberdade para Mumia Abu-Jamal! – as constantes demonstrações de ideais e posições – Woodstock 99 e a bandeira em chamas – tudo isto ajuda a criar uma vaga de imenso ódio ou incomensurável amor. Fico pela segunda, sff.

Se os RATM me moldaram, de alguma forma, a nível político? Se me deram a conhecer um mundo, político e cultural, que até então desconhecia? Se me apresentaram a clássicos do Rap que me tinham "escapado" até então? Se foram banda-sonora de horas infindáveis? Se me fizeram, também, infeliz, por não os conseguir ter visto em Lisboa? É um sim a tudo! Ainda hoje o é, ainda hoje vejo o quão importante foi este álbum, e não digo que aqueles que o seguiram não são igualmente "perigosos", mas este, senhores e senhoras, entrou de rompante, fez danos e seguiu a sua vida! Mostrou ao mundo um quarteto sem medo de mostrar ao Mundo aquilo que o faz mover, aquilo que lhe dá vida e o quanto essa essência é a essência de muitos! Muitos, acredito, seguem a Música, seguem o som, qual Flautista de Hamelin, outros seguem as palavras, esses "parvos".

Que mais há a dizer? Ah, estão na lista de possíveis artistas que darão "entrada" no Rock n' Roll Hall of Fame. Pessoalmente votei neles. Foi a primeira vez que votei, e fi-lo porque, apesar desta possível induction ser contrária àquilo que a banda defende, de certa forma, sou apologista que merecem um reconhecimento diferente daquele que é dado pelos fãs, se é que me explico bem. Podem não ter estado na base de algo que, anos mais tarde traria aquela praga que foi o Nu-metal (sim, praga daquelas que não vai embora), mas alavancaram como poucos uma linha até então pouco experimentada (sim, já tínhamos os Faith no More, mas não…). E é isto, meus senhores e minhas senhoras: Zack de la Rocha, Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilkins. É Rock, é Rap, é História, é Consciência de Sociedade e de Classe, de Luta do Povo e de Revolução!

Still Raging Against the Machine…



 

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue