Editado em 2020, “Deus Inversus” juntou Kirkebrann a
estes Black Altar. Recordo ser um muito bom Split entre duas bandas bastante
consistentes, com um som actual, ainda que com nuances do Passado. Chegamos a
2022 e os Black Altar unem forças a Vulture Lord, banda norueguesa de Black Thrash
Metal, em mais uma mostra de qualidade. Ainda que não seja esta a linha de
Black Metal com a qual me identifico hoje em dia, vislumbro bastante qualidade
em ambas as bandas. Este Split segue a linha que mais me agrada neste formato:
ainda sendo bandas cujas sonoridades encaixam no mesmo género, há diferenças
bastante demarcadas entre ambas para que seja uma experiência dinâmica e
interessante. Black Altar toca Black Metal mais próximo das raízes do que se
fazia nos anos 90, tanto na Noruega como na Polónia, país de origem deste
quarteto. Excelente produção, melodia e agressividade q.b. É pena que esta
banda não tenha, ainda, dado o salto para o patamar acima! “Sacrilegious
Congregation” é um belíssimo exemplo do Black Metal destes senhores: as linhas
de guitarra, as vocalizações, a bateria, tudo aqui soa perfeitamente encaixado.
Banda que merece mais visibilidade. Vulture Lord, por sua vez, regressa com a
sua proposta de Black Thrash Metal agressivo! No rest for the weak! Riffs a
milhões, bateria fast as Hell, vocais cuspidos e lacerantes, quais facas! Típico
do Thrash, aquele a sério, é a incansável energia, e aqui não falta.
Estranhamente há algum... groove que não identifico nesta banda, mas não deixa
de ser interessante. Vulture Lord não falha na hora de dar estalo e cuspir na
cara daquele ouvinte mais incauto, o que só torna o som mais interessante.
Temos aqui aquele aroma tão germânico, que no fundo é como o Thrash deve soar.
Tudo o resto é não-Thrash muahahah! Querem perceber melhor este Thrash? Pensem
Aura Noir ou Old, por exemplo: a ferocidade do Thrash com a negritude do Black
Metal. No fim, fica uma colaboração muito bem engendrada.
Minneriket – “Gjennom Meg Gar Ingen Til
Hvile“ (Akslen Black Art Records, 2022)
Minneriket é Stein Akslen, e Stein Akslen é
Minneriket. O trabalho do multi-instrumentista assume proporções que não esperava. De
que forma, perguntais vós? Vindo da “Escola Norueguesa de Black Metal”, não se
pdoe – ou deve – esperar algo linear, “sem sabor”, chata ou banal, e foi isso
que Stein decidiu fazer quando criou o projecto. De mencionar o recurso a
violino, harpa, violoncelo, saxofone, flauta, teclas e variadíssimos convidados
nas vozes (e nos referidos instrumentos, entre outros). Ou seja: esqueçam
Mayhem, e pensem em algo diferente. Diferente... podeis assim ficar com uma
ideia daquilo que vos espera. Pensem em dualidade vocal Homem / Mulher;
guturais e melódicas vozes femininas. Será esta faceta deste trabalho aquilo
que mais me agradou. Sou (relativamente) fã de Theatre of Tragedy (de 1994 a
1998), e esta dicotomia, quando bem trabalhada, ainda hoje me consegue deixar
de sorriso rasgado. Aqui, na maioria das músicas, a voz masculina suplanta a
feminina em termos de “airplay”, mas faz sentido. As vocalizações masculinas
são as expectáveis para o género, sendo que as femininas funcionam mais como apoio
que protagonistas. Há diversos, e diferentes momentos neste trabalho que nos
levam a diferentes estados de espírito. Segue uma linha concreta? Não, de forma
alguma. Vive na dinâmica musical, e dá-nos essa dinâmica de tema para tema. De
certa forma, e isto poderá soar mal, esta dinâmica por vezes soa-me a manta de
retalhos. A linha musical mantém-se no Black Metal, disso não há dúvida, mas a
inclusão de A ou de B acaba por tornar o som um pouco estranho demais para
mim... ou simplesmente não consigo criar uma conexão. Atenção! Aquilo que mais
me agrada neste trabalho – para lá das dicotomia nas vozes – é a adição de
instrumentos “externos” ao género, o que lhe dá um aroma distinto. Ainda assim,
por vezes perco-me na quantidade de variações.
Comentários
Enviar um comentário