Kontrattack – Das ruas de Faro, com Ódio.

Kontrattack, regressados em 2020 de um hiato de 10 anos. "Demos XXI – XXVI" é a expressão física deste regresso, pelas mãos da Backwash Records, onde podemos encontrar as Demos "Protest & Survive", de 2001, e "Don't Accept Defeat", de 2006.

Colectivo Punk Hardcore de Faro, um dos focos da cena em Portugal, dono de uma sonoridade deveras agressiva, verdadeiramente "in your face". Este regresso traz uma mutação no som original da banda. Com berço na cena NYHC e Boston HC, esta nova "aventura" de Kontrattack vê-se embebida de sons vindos das ilhas britânicas, fruto da expansão da NWOBHC. Punk Hardcore Oi! e muito estalo na tromba.

Esta entrevista, "arrumada" há algum tempo, vê assim a luz. Give it a go, e vão checkar a banda.

"Um Grito de Hardcore"

Antes de mais, o meu agradecimento pela vossa disponibilidade. Como é, passados 10 anos, estar de volta e ver que o pessoal já há muito esperava por um regresso?

Antes de mais nada queremos agradecer o tempo despendido connosco e pela honra de estares a pôr o nosso nome na tua fanzine com estes 5 “droogs” que além de cerveja partilhamos o rock honesto das ruas de Faro. 

Para nós o regresso foi algo natural e aconteceu porque o futuro não está escrito como os The Clash já diziam desde dos tempos áureos do Punk 77 e nós cá estamos de volta como um osso duro de roer.

Regresso muito esperado talvez seja exagero, acho que é normal que passados 10 anos muita gente já tivesse dado a banda como extinta. Mas, estamos de volta porque ainda temos coisas por fazer e deu para sentir que há pessoal receptivo que acompanha a nossa cena, e por esses somos gratos.

Qual foi a fagulha, por assim dizer, que ateou o fogo do regresso? Este regresso faz-se com novos elementos, com velhos elementos, mas suponho que a vontade e "raiva" sejam a mesma! 

O que nos fez voltar e acender a "centelha" como os POINT OF NO RETURN de São Paulo dizem num álbum deles, foi a vontade de voltar a estarmos juntos como colectivo, criar e refazer novos e velhos laços, manter o espírito brother que sempre tivemos e temos fora da banda. Porque antes de sermos só uma banda somos um grupo de amigos que está aqui não só pela música e pelo divertimento, mas para manter uma herança e um legado que nos foi deixado em Portugal por bandas ligadas ao punk desde de 1977/78 como Aqui d'el Rock, Faíscas, Minas e Armadilhas, Tilt, Corpo Diplomático ao Hardcore punk e Oi! De uns Mata Ratos, Kú de Judas, Crise Total, Grito Final, Porks, Corrosão Caótica, Nestrum, X Acto, Anti Porcos,/ Pé de Cabra, Punk Kecas, Metralhas, Last Hope, Trinta e Um, Funda, Campo Minado,  Omitted GR( RIP PIO) , entre outras bandas que antes de serem só uma inspiração são também influências para nós,  são pessoas e seres humanos que partilham e seguem os mesmos princípios que nós e que deixaram a sua marca mesmo que seja só  através de memórias e de pequenas  coisas que nos marcaram a  todos nós e numa só voz. 

Resumidamente na música "Don't accept defeat” salienta essa temática, através dos velhos valores que nós acreditamos e seguimos, como o respeito, a amizade, a solidariedade, a igualdade e a liberdade de expressão quer que seja na música ou nas artes nos fez voltar e nunca pendurar as botas. 

Além do mais os integrantes de Kontrattack nestes 10 anos de hiatus tiveram outros projectos onde tocaram em bandas como Asas da Vingança,  Betão Armado, Confront hate, A Thousand Words, Reaper,  Forca e também estão estão ligados ao mundo das fanzines como a “Das Ruas para as Ruas SkinZine” e agora com a “Catch our Breath” Hardcore/Punk e um dos elementos de Kontrattack tem o podcast dedicado a cena Hardcore punk portuguesa o “Bates forte cá dentro” . 

Aquela pergunta bem característica do velho: como vedes a cena de hoje, em comparação com a de 1999? A evolução é mais que visível em vários aspectos, mas o core da mesma, continua lá?

Nesta pergunta podemos dizer que a nossa realidade de todo expressa bem o que nós sentimos quando vamos a concertos, tanto agora como quando entrámos na cena com Kontrattack em 1999 e seja em Faro ou em Lisboa ou na Margem Sul, Loures ou Linda-a-Velha. A cena só morre se nós  morrermos individualmente para ela. Ou seja, para quê serem mil se na verdade só 2 ou 3 continuam cá? E enquanto houver esses 2 ou 3 a cena nunca há-de morrer porque se não morreu até agora. Mesmo em pandemia estamos a ver putos novos a aparecer com um sentimento ligado à velha escola do Hardcore, seja nos subúrbios rurais ou no centro urbano da cidade.

O vosso som é, tal como as influências que referi, a junção de uma série de sonoridades dentro do espectro do Hardcore: uns mais modernos, outros mais clássicos. Numa altura em que se vê uma onda de revivalismo, especialmente na ilha de Sua Majestade, a Imortal, o vosso regresso pode beneficiar de um maior interesse do pessoal, por sonoridades mais clássicas?

Nós com Kontrattack nunca fomos atrás de modas e hypes e muito menos de bandas que de forma poser e fake debitam um falso saudosismo revivalista para chegarem às massas. 

Para nós como colectivo o importante é tocarmos aquilo que nos dá gosto tocar e transmitir as nossas palavras de guerra contra toda a corrupção e a hipocrisia que existe na política e na sociedade em que vivemos. Claro que todos nós temos referências diferentes onde cada um vai beber as suas influências e buscar a sua inspiração para a criação das nossas músicas e letras.

Desde do NYHC, Boston Hardcore, Heavy/Speed/Thrash/Black/Death Metal e agora podemos referir a nova escola do NWOBHC onde a combinação do Oi! E do UK82 sao uma desde sempre para nós um factor central onde a música e a mensagem se conciliam numa só voz. Vamos beber tanto a bandas atuais como clássicas, de forma individual cruzamos essas influências na sala de ensaio, e não de uma forma artificial quase que com a tal fórmula para se fazer uma música ou álbum do estilo da banda x ou y.

Kontrattack mesmo indo beber um pouco das influências musicais desde a cena NYHC ou Boston HC nunca seguimos uma realidade que não fosse a nossa e sempre fomos fiéis a nós próprios, desde o início da banda e temos e tivemos elementos com diferentes backgrounds, desde de pessoal straight edge, skinhead vegetarianos e vegans. O que faz a banda se manter fiel a ela mesmo e que não seguimos quaisquer rótulos e apenas pomos cá fora a nossa mensagem sobre o que acreditamos e defendemos. A nossa aprendizagem e experiência de vida são o veículo que nos faz seguir o nosso caminho em relação a realidade que vivemos e que é expressada por nós.

Vós regressastes num ano especialmente atípico. Óbvio que nenhum de nós estava à espera que uma pandemia "varresse" este Mundo, e nos remetesse ao confinamento. Acabou por ser um regresso "inglório"? Bem, inglório não, porque foi recebido com um sorriso por todos, mas não acabou por ser um pouco mais chato regressar… e confinar?

Para dizer a verdade, nós estávamos a ensaiar há quase um ano e a preparar o regresso pois integramos novos elementos na banda, e no primeiro concerto que estava agendado para Março de 2020 no Bafo de Baco fomos surpreendidos pelo confinamento e o cancelamento de todos os espectáculos. Na altura pareceu excessivo, considero que toda a gente achou, mas rapidamente se percebeu que a situação era grave e essas medidas eram necessárias. 

Mas por outro lado, em Outubro e Novembro conseguimos tocar com a plateia sentada, o que nunca pensámos que fosse possível, que tira todo o sentido de um concerto Hardcore, mas que por outro lado nos deu a oportunidade de voltarmos a ver amigos e pessoas novas na cena e vender algumas T-shirts, K7s da banda.

Chegastes a fazer algum tipo de promoção referente à compilação que junta ambas as vossas Demos? Sei que destes um – de que tenha conhecimento – concerto em Faro, certo? Para lá disso, que vos permitiu a pandemia fazer?

O split tape com as 2 demos foi algo que surgiu de forma a termos material que pudéssemos distribuir no concerto que nunca aconteceu em Março devido ao confinamento. O Tiago Gil da Backwash Records tinha umas tapes e falámos sobre isso e foi assim que saiu a tape split com a demo “Protest and Survive” de 2001 e a "Don't Accept Defeat” de 2006. Fizemos alguma promoção nas plataformas digitais e foi só, pois também estava limitado a vinte e tal K7s, e estiveram depois disponíveis nos concertos de Outubro e Novembro na Associação de Músicos de Faro. 

Este lançamento já estava planeado e foi "apanhado" pela pandemia, suponho! E ainda por cima pela Backward Records! Como chegastes a esta edição e qual foi a principal razão para tal, especialmente passados tantos anos. 

Para quem não conhece as demos, os nomes em jeito cronológico  e metaforicamente juntos respondem ao porquê do split.  "Protest and Survive " & " Don't Accept Defeat” se traduzirmos para português quer dizer “Protesta e Sobrevive” e “Não aceites a derrota” ou seja o que queremos transmitir é que continuamos cá a protestar e a sobreviver sem aceitar o conformismo e as regras impostas pela globalização capitalista com este fascismo mundial unitário que começamos a viver debaixo do poder camuflado de uma epopeia onde a Nova  ordem mundial manipula e mexe os cordelinhos sobre as marionetes  da civilização actual, onde a humanidade está a ser crucificada actualmente. 

Focando-me um pouco na pandemia, como vos afectou, pessoalmente, esta situação? Isto obrigou o pessoal a adaptar-se a uma realidade que só vemos em filmes… e por norma traz consigo uns quantos zombies ou infectados e o raio! Isto fez-vos olhar para aqueles actos rotineiros, com saudade? Para aquelas actividades mecânicas e desejar que fosse possível fazê-las de novo, não? Como banda, como músico / criativo, de que forma a pandemia veio mexer com esse lado de vós? Havia planos para músicas novas, para novos trabalhos? Ora aí está algo interessante de saber!

Sinceramente a pandemia só nos veio afectar, para já porque a nossa sala de ensaio fica fora do concelho onde vivemos, embora sejam 8km, e tivemos e temos que romper o confinamento desrespeitando a lei para podermos ensaiar e gravar. De resto, para alguns de nós que foram obrigados a entrar em lay off, acabamos por ter mais tempo para compor ou escrever. 

Temos músicas novas que vamos gravar brevemente e neste momento vamos estar presentes na “Worldwide Boots Compilation" com a música “United in Blood” junto com os Danger Zone, M.E.D.O., BAD!, Forca, Murderers Row, No Parole, Sentry,  Fuerza Bruta, Intimidation, Rats Eyes e La Oposicion. 

Estamos agora  a gravar e a mixar umas  músicas novas que irão sair brevemente online numa promo stream,  este ano de 2021 se tudo correr bem será lançado finalmente em formato físico o disco de Kontrattack.

Mas na verdade não vemos a hora de tocar numa situação normalizada onde possas fazer pogo, slam dancing, two step ou moshar à louco para o crowd kill com tudo o que um concerto de Hardcore tem direito.

Estivestes "fora" durante 10 anos, mas presentes na cena, suponho. Como vistes este 10 anos, tanto em Faro como a nível nacional? As mudanças, as metamorfoses, os crescimentos… que mais vos impactou, como músicos e como parte integrante de uma cena, nestes 10 anos? 

A cena Hardcore, punk, underground DIY, ganhou novas ferramentas como as redes sociais que vieram facilitar muito a promoção e comunicação, seja entre bandas e público, seja entre bandas e labels, distros, promotores de concertos. Houve de facto uma evolução e uma democratização das ferramentas seja de promoção seja de gravação. Talvez a mais importante é a facilidade com que se consegue gravar na sala de ensaio com um portátil e uma placa de som com uma qualidade muito boa e uma logística mínima comparada à 20 anos atrás.

Em relação aos concertos considero que existe uma tendência nas pessoas de “dourar a pílula” de dizer que antigamente é que era. Nós achamos que continua a haver concertos, novas bandas, públicos, salas e cenas acontecer muito boas, gerações diferentes que por vezes se esquecem dos antigos valores da cena do passa a k7 e grava o cd mas que de uma forma ou de outra contribuem para o legado da cena underground.

Uma das nossas novas músicas é dedicada ao Raybeez de Warzone, figura incontornável na cena Hardcore e que tem a seguinte frase que usamos como forma de homenagem e tributo: "DON'T FORGET THE STRUGGLE DON'T FORGET THE STREETS" que diz "All you kids out there Always keep the faith".

Voltando a uma questão colocada antes: 10 anos depois, quando teremos malhas novas? 

Neste momento estamos a finalizar a gravação de algumas músicas inéditas que já tínhamos começado há algum tempo. Estamos também a trabalhar um material novo com o intuito de ir para estúdio nos próximos meses e esperamos até final do ano terminar o álbum. Entretanto podem ir seguindo o nosso Instagram porque vamos actualizando e dando a conhecer algumas malhas novas. 

Para terminar, deixem que vos pergunte: que efeito terá, na vossa opinião, esta pandemia em nós, Sociedade? Foi um prazer ter-vos aqui. Um bom regresso, já com 1 ano de atraso, mas mais vale tarde que nunca. Cumprimentos!

Antes de mais, voltamos a agradecer o teu interesse em nos entrevistar e continua o bom trabalho a dar a conhecer o submundo do panorama musical. 

Não está a ser fácil mas de forma directa e frontal podemos dizer que estamos à beira de uma III guerra mundial e de um IV reich, a diferença é que as vítimas deixaram de ser vítimas para agora serem os opressores em nome deste fascismo mundial unitário que o G7 e a nova ordem mundial está a levar a nossa humanidade e a nossa civilização actual pelos caminhos do capitalismo. 

Não deixamos de encarar o futuro de uma forma positiva, mas nada nos é dado de graça, temos que lutar por isso, seja no trabalho, na vida, no bem-estar do nosso planeta ou sociedade, resumidamente perante esta Idade sombra o chamado "Kali yuga" o  "The Iron Age of Quarrel", vamos continuar cá, sempre com a mesma atitude AGAINST MODERN WORLD.

Se tiveres alguma dúvida diz 😉

Cumprimentos.

Kontrattack Official Bandcamp




 

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