Skinliv / Vermisst (Nebular Carcoma Productions, 2022)

Nem sabia muito bem de que forma iniciar esta review. Não encontrei, de certa forma, as palavras que melhor representariam a experiência sonora que é este Split, com especial incidência no desempenho apresentado por Skinliv. As melodias, envoltas num manto de obscuridade e um ritualismo quase palpável. Há toda uma ambiência maligna que se apodera do ouvinte, que nos arrasta, no prende e nos trucida. Adoro o ritmo a que a música se desenvolve: lento, arrastado, delicadamente estruturado de forma a levar-nos por etapas, e mais etapas, até um anti-climax, uma confrontação com a Negritude que nos abraça. Lírico? Demasiado cheesy? Honestamente... isto é Black Metal! É visceral e abrasivo; melódico e primitivo. Arrisco dizer que Skinliv é daqueles pequenos – enormes – tesouros, escondidos diante de todos. Agarrem, mas agarrem depressa. Este pessoal é brilhante. Encontramos linhas melódicas bastante segunda vaga, mas tão bem estruturadas, que depressa entendemos que estamos em território demarcadamente Skinliv. 

De seguida? De seguida Polónia, e Vermisst. Este trio não me era de todo desconhecido, e foi com expectativas que me “lancei” a este novo trabalho. Um pouco em linha com os companheiros de lançamento, também estes vivem em territórios tétricos e envoltos num sentimento fúnebre. Isto leva-me para aquela franja do Black Metal em que me sinto em casa: ambiências escuras e densas, ritmos lentos e pesados, o termo primitivo, aqui, encaixa na perfeição (primitivo é diferente de dissonante, só assim como nota). As teclas, que tão bem preenchem os espaços, dão aos temas aquele sentimento... tétrico. Engraçado que sempre associei este trio, sempre os “pintei” de uma forma muito cerimonial, uma cerimónia fúnebre. Um pouco como o que fazemos – ou podemos fazer – com os “nossos” Defuntos, esta realidade da Morte, do Funeral, encaixa na ideia musical de ambos, ainda que de formas distintas: a dor da Morte e do acto de enterrar um amor, a este imaginário mais físico e palpável do espaço cemitério. Fez sentido? Esperemos que sim. De qualquer forma, todo este imaginário é devidamente delineado através do recurso às teclas, essencialmente, e a uma excelente estrutura instrumental. As vozes... são as vozes do Além. Em jeito de conclusão: dos melhores Splits que já tive a oportunidade de ouvir.



Úlfarr – “The Ruins of Human Failure” (UKEM Records, 2021)

Formados há mais de uma década, os britânicos Úlfarr regressam com mais um EP. Um conjunto de 6 músicas em pouco mais de 25 minutos. É Black Metal, com força e hostilidade. Não contem descobrir atmosferas elaboradíssimas, ou intrínsecas melodias... isto é Black Metal! Soa bastante a algo saído da Noruega, como tantos outros por esse Mundo fora. Para quem absorve tudo aquilo que os país das fiordes expele, está aqui um caso que segue essa exacta linha. Pessoalmente, não encontro nada de extraordinário neste lançamento. É mau? De forma alguma. “Mata a minha fome” de Black Metal? Não. Em dados momentos sinto que estou num álbum de Thrash, não pela velocidade a que os riffs rasgam os canais auditivos, mas pela abordagem. Curiosidade: Úlfarr é um músico, os seus instrumentos, e o seu computador. Raio no Varg, que sem se aperceber deu azos a esta realidade solitária LOL mas é então que algo ocorre! Após os 4 temas iniciais somos recebidos por uma malha bastante mais interessante: lenta, densa, uma melancolia daquelas que vai resgatar aquilo que o acima referido músico concebeu no Passado. É aqui, quando abrandamos o ritmo e criamos estas melodias mais negras, mais “mortas”, que este trabalho ganha outra luz. Isso mesmo, luz... mas negra. “Forgotten By Time” “arrasta-se” por 8 minutos e 42 segundos, e são imensamente superiores ao que ouvimos até agora neste lançamento. Não desafia as regras do género, nem tem pretensões de tal, mas apresenta-nos algo bem concebido. “Cold in Death” é uma peça instrumental que encerra o EP, e de que forma. Overall é um EP com duas faces, duas abordagens – quase que me dá vontade de escrever “Split” – que ganha mais vida, quando “morre”.



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