Bragança, de novo Bragança
Mental KO
Há uns meses, uns largos meses, encetei numa – infrutífera – demanda de tentar abarcar uma série de registos de bandas de Bragança do fim dos anos 90, início dos 2000, com uma sonoridade próxima daquela que tomo como minha. Falei e falei, mas pouco consegui, para grande pena minha. Para lá dos resgistos que já tinha comigo, só consegui o link para um perfil do Soundcloud. Por sorte, imensa sorte, esse registo é de uma banda da qual tinha ouvido falar, mas que nunca tinha ouvido: Mental KO. Um dos músicos – pelo menos um, certo? – formou, há uns anos atrás, os Lacre, e de certa forma manteve-se na mesma toada melancólica, ainda que mais luminosa.
Este registo é composto por 13 temas, sendo que 3 são covers: uma de Fields of the Nephilim, uma de Paradise Lost, e uma outra, de Motorhead, sendo que pegam na versão que Sepultura fez deste clássico. A cover de Fields of the Nephilim encaixa quase na perfeição naquilo que a banda mostra nos restantes temas. A banda de Carl McCoy é particularmente particular, se me permitem, e parece-me que era, naquele momento, a linha que a banda desejava seguir, ou que tinha como delineado. Se a esta adicionarmos Paradise Lost, conseguimos sim, ter uma visão um pouco mais clara do som a que a banda almejava. “With Hate” é um tema deveras interessante. “Transborda” aquele Doom britânico por todos os poros, o que faz sentido. Segundo informação, o tema é de 1995, época de ouro para a Santa Trindade Britânica (Paradise Lost, Anathema e My Dying Bride), e que tantos e tantos adeptos conquistou. Gosto especialmente da linha de baixo, e ainda mais por me remeter para o “Clouds”, de Tiamat. Não é só neste tema que o baixo ganha preponderância. Ao longo dos temas este instrumento é bastante audível será por serem registos ao vivo... mas quando regravarem isto, mantenham o baixo como rei. Obrigado. “No Feelings” tem uma linha melódica digna de mais reconhecimento, caramba, e foi captada (como muitas outras) com um gravador de cassete (pago por uma dessas cassetes) e durante um concerto. Por falar em registo em concerto, há várias músicas gravadas aquando de concerto no antigo pavilhão do IPJ, que parece-me não ser utilizado para eventos musicais (correct me if needed), pelo menos tenho ideia de tal.
Adorava ver estes temas gravados com outra qualidade. Infelizmente é assim que se perdem registos, que se perde história, que se perdem peças essenciais de arte. É realmente engraçado como associo, com bastante facilidade, sonoridades mais Gothic Doom à paisagem a Bragança, ao seu clima, às suas cores. As cidades pequenas vivem com mais paixão as linhas comportamentais que a Sociedade, num dado momento, toma como prevaricadoras e desviantes; aquela quase necessidade de sobressair, que no fundo não o é, sendo somente o ser; o ser aquilo que o indivíduo realmente é.
Um registo bastante
interessante, e que provavelmente estaría ao nível de tantos outros que se
gravaram em Portugal, na altura, dentro do mesmo género, mas que nunca saiu dos
concertos e das cassetes gravadas.
P.s.: qualquer contacto que permita levar a cabo entrevista, será muito bem-vindo. Obrigado.
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