Raiva Rosa

Coisas e Palavras e Cenas

9 de Novembro de 2023

Bom dia. As minhas desculpas pela demora em publicar esta review/análise às perguntas colocadas/conversa/amena cavaqueira no tasco/whatever (riscar o que desejarem, sff), mas a Vida e o Tempo são lixados, e como considero que ficou um pouco aquém do que queria extrair do pessoal, fiquei de pé atrás se deveria, ou não, levar isto a público (aquelas 2 pessoas que ainda leem as minhas coisinhas).

Estou a começar isto pelo fim, e esta porra soa quase a conclusão, mas sinto essa necessidade de me desculpar, de certa forma, pelo que de seguida vem. Não considero que as minhas palavras espelham as pessoas por trás da música da forma correcta. Perderam-se as palavras mais ásperas dirigidas a realidades que não nos são atingíveis, que nos fogem porque não pertencemos a esse círculo, não somos o Daniel A, mas sim o Daniel B, e dessa forma não há aquela “ajuda”. Well, que mais escapou? A honestidade que escorre de uma pessoa para outra, que por sua vez termina neste teclado, deste computador, no ficheiro do Word e depois na página do Blog, acaba por se diluir. A ver, ela não deixa de ser honesta, mas nunca será tão honesta como ver e ouvir o João a largar uma piada acutilante ou o Heitor a bater com o punho – não figurativo – quando falamos de certos temas. As minhas palavras nunca irão mostrar-vos o quão porreiro é este pessoal, e o quanto a música deles já deveria estar mais longe…

Assim sendo, e com noção do que aí vem, ide em paz, meus amores. Desfrutem das palavras, da música… e até uma próxima oportunidade, no mesmo sítio, que a máquina tenha bateria, por favor (no hate, no hate)…

No Tasco

Foi deveras interessante a forma como se desenrolou a nossa nada curta conversa. Antes de mais, isto era para ser filmado, mas bateria... esquece. Mas hey, de forma alguma atrapalhar. Na verdade, uma bela percentagem do falado voou, e ides desculpar-me por tal, mas acabámos por ter aquilo que tinha projectado: uma amena cavaqueira em torno de música, da música de Raiva Rosa e uma série de "satélites" que a rodeiam. Tocámos em temas que fogem da música, mas se aproximam da urgência que existe no imediato do acto da criação e divulgação dessa cultura. A nossa "Meseta Ibérica", que vive de geradores cibernéticos, mas que alberga uma metáfora imensa. O discurso escorre para questões transversais ao poder local e acções, mas pfff, who cares?! Essência e conteúdo; temáticas líricas e o esticar o braço e chegar mais longe e mais forte. E o tema arrasta para a questão da criação. Limitação ou dar um pulo? A banda tem vindo a dar pulos, pulos esses que têm vindo a enriquecer o som da mesma. Falámos da "Meseta Ibérica", mas que dizer de uma "Arder"? Esta segue a linha natural da banda: há Ornatos Violeta? Há. É só isso? Não. Mas pergunto se será fácil fugir do marco que é a banda do Porto. Sempre vi Raiva Rosa como, e de que forma colocar isto? Não os vejo como uma cópia dos Mestres, mas como uma belíssima homenagem a um dos melhores exemplos da música nacional de todo o sempre. Caramba! Aquele groove pesado e quase melancólico... a banda lançou, por ela, o primeiro álbum e usemos as palavras, não textuais do João, e descrever este trabalho como uma viagem do Ser pela sua existência: as experiências e as expectáveis merdas, por exemplo; as lições aprendidas e os actos inconsequentes.

Vamos lá ver, a banda veio de um grupo de amigos a curtir a cena, para um grupo de amigos a curtir a cena, com um outro nível de profissionalismo. Profissionalismo esse que chega a assustar no sentido de... de certa forma é o oposto: não assusta! É de admirar! O incessante tema do isolamento e o vazio cultural não são entraves para que a banda foque um ponto no horizonte, e siga em frente. É realmente admirável, e foi esse foco que os levou à Suíça. O não ficar aqui, neste pedaço de terra, à espera de que algo lhes caia no colo; a banda mexeu-se e siga, que para a frente é o caminho. Sem dúvida que os novos membros foram - e são - uma mais-valia, e uma malha como "Meseta Ibérica" vem provar essa ideia: uma realidade sónica diferente das restantes malhas, mas que cai tão bem, mas tão bem. A viagem que é este álbum entra nesta fase mais suave, mais calma, mais serena, numa planície. Palavras da banda, que devo ter esquecido exactamente letra a letra, mas que se tenta replicar ainda assim. E acabo por concordar.

A nossa vida é essa viagem, esses picos bons e maus. As narsas que apanhámos, as desilusões amorosas e os dissabores provocados pelas mulheres que nos amaram, mas que no final do dia, isso... conheci a banda em 2018. A Demo de 4 temas - ou 5, ou 6 - rapidamente me agarrou. Bragança e Rock n’ Roll?! Yes, please. Obviamente aproveitei e demonstrei que aquele som é que era, mas claro que entendo que não possa ser aquela a direcção. E temos regravações, adaptações, suaves alterações que vieram restruturar algo que tinha vida, mas que cresceu nestes anos em que foi sendo amada e acarinhada. "Raiva Rosa" foi um choque, admito. Perdeu? Confessei que sim, perdeu. mas eu sou um e um só. "Narsa" ganhou corpo e um groove que não estava na primeira versão, e cresceu bastante. Foi bom entender, ainda que não tenha sido questionado ou dito, que a banda cresceu, que os seus elementos amadureceram, e as suas criações amadureceram com estes. Fico admirado com o não haver palco para este pessoal, seja dentro deste Reino Maravilhoso, seja fora dele. A minha amada diz que a cena nacional nunca esteve tão rica e diversa; insisto que não concordo. Durante a conversa falou-se se A e de B, deste e daquele, mas a questão mantém-se: por que raio não? Notamos, nas palavras da banda, que há alguma tristeza - tristeza não será a palavra certa - em não lhes ser possível mais. "Porto", o amor metafórico, a tristeza na analogia. As palavras de João, o vocalista da banda, indicam que a música transporta Amor e Tristeza, e carrega em si doce melancolia. Há alma nestas malhas, há essência, daí até eu estranhar por que razão não há algo mais. Esteja a culpa no TGV – se bem que acho que isto foi tratado na conversa anterior, na mesa ao lado – se está na falta de vontade das partes que tem de estar lá para dar a mão, ou no raio que parta, a verdade é que sim, ou não, ou o c@r@lh@ (ignorar). "Porto" é emoção, claro. Planos de Futuro e estratégias do Presente, onde a máquina tem motor e pretende seguir em frente. Já falámos da "Raiva Rosa"? Soa aqui, nesta sala de ensaios, e sim, soa diferente, mas soa bem. Esta poderá não ser a música que define a banda - segundo eles - e acho que nos focamos nesse exacto ponto, mas é interessante ver como ela se adaptou a estes novos membros, que aportam um pedaço deles a algo já existente, tornando-a, desta forma, sua. Pá, é uma malha dos ditos cujos. Aaaaaah, caramba, assim já me soa diferente, ao vivo, com o raio do ouvido direito em sofrimento. As teclas?! Que bem soam. Talvez tenha de repensar a minha posição quanto a este tema em específico.

A banda preparava-se, aquando desta conversa, para tocar em Coimbra, englobados num festival, e a máquina já trabalhava nesse sentido, afinando e alinhando... Continuo a achar deveras engraçado o quão "disfuncional" esta banda aparentemente é. Vejamos: aqueles mais calados, introvertidos, perdidos no mundo das notas musicais e o raio, e aqueles que querem comer o Mundo e não se inibem de o vocalizar. Há mal nisto?! De forma alguma. O Rock n’ Roll sempre viveu desta arrogância, deste show-off e libertação do ego mais posh e empertigado. Na verdade, a conversa, aquela de tasco e entre um fino e outro, não nos leva para essa toada, mas quando entramos nos planos para o amanhã, o que fazer para levar a banda mais longe, sai de dentro do Ser essa besta enjaulada - obrigado, Fausto - e é bem claro o desejo de mais e mais. A banda assume que é esse o caminho, uns de forma mais ponderada, outros com uma confiança que pode ser confundida com arrogância. Honestamente, qualquer que fosse a ideia que tinha destes "putos" - e menos putos - saio daqui com uma real ideia que este som tem que chegar mais longe. Como?! Sei lá, mas podia voltar lá acima e bater na tecla dos apoios, do fugir deste isolamento que não é metafórico, mas sim bem real.

Na Sala de Ensaios 

Enquanto escrevo estas linhas o pessoal rasga o "Narsa", e para quem é de Bragança, ou viveu cá, sabe que somos de classe mundial no que toca a ingestão de bebidas fermentadas, destiladas e similares e o camandro. E depois temos este detalhe: fale com qual falar, a música deles soa-me a Bragança, tal como Sound Advice me soava a Bragança, ou vice-versa, que já é tarde e estou cheio de fome e sono. Não tocámos num ponto ou outro, mas foi bom sentir a batida pela qual a banda se guia, entender que a ideia é chegar mais longe, que as fronteiras físicas não são um impedimento, e que este aroma a arrogância é uma peça essencial do que são os Raiva Rosa. Posso soar suspeito, mas a verdade é que tal como a música deu o click, a própria banda deu o click, e as características humanas têm o seu peso e ajudam a delinear opiniões.

No que toca ao trabalho ofertado neste álbum, Porto" é bastante interessante. Ainda que deambule num estado emocional aparentemente denso e danificado, tem em si toda uma força, uma aura very uplifting e de positividade, o que acaba por ser contraditório, já que o foca o Amor e a Paixão no campo do Desgosto e Desilusão. No fundo isto é uma fórmula muito bem concebida. 

"Delirar" é Rock n’ Roll chapado. Rock cantado em português que faz a diferença. Onde? A aura que existe no Rock em português não existe no Rock espanhol, e vice-versa. You got the picture. Há algo muito nosso. Soa a algo nosso? Não soa a Ornatos, isso não; não soa a moderno nem a velho. É engraçado. Não reinventam a roda, mas acredito piamente que não seja essa a intenção. Rock n’ Roll não pede inovação, pede coração. Rima e é verdade.






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