A Decadência do Pecado



Criar Música é, acima de tudo, inovar, arriscar e dar passos em direcções até então desconhecidas. Será essa mutação necessária para que se continue a apresentar trabalhos de qualidade, capazes de agarrar o ouvinte pelo pescoço e manter a chama da própria banda viva? Não, óbvio que não. Ajuda? Sim, creio que sim. O estagnar pode ser, muitas vezes, a morte do artista. Há sim, casos em que mais do mesmo é mais que aprovado, mas esses são casos muito particulares…

Moonspell. Deles falamos aqui hoje. Há algum motivo especial? Edição nova ou algo assim? Não. Houve, sim, a reedição daquele que é, por muitos, considerado o “Álbum de Ruptura”. Tive a sorte de tomar contacto com a banda anos antes da edição deste álbum, e depressa se tornaram um caso especial. Através da mesma conheci imensas bandas, imensos escritores e pensadores. Devorei até à exaustão cada um dos trabalhos editados, e ainda hoje os considero essenciais no entendimento daquela que é a Cena Portuguesa de Heavy Metal – haters going to hate, jealous people will also hate – e que ainda hoje têm um lugar especial naquela que é a estrutura musical desta Besta que hoje regurgita verborreia para vosso deleite!

Quem conhece a banda, a nível sonoro, sabe que a mesma não se limita a repetir a fórmula que um dia lhes deu sucesso – “Wolfheart”, snif – mas exactamente o contrário: há que arriscar, há que arriscar! Não discordo, de modo algum, dessa máxima. Só me chateia um pouco que tal não me permita ter um novo… “Wolfheart”, mas oh well… percebo, respeito, não me agrada, mas respeito todo o percurso que a banda tem feito desde aquele primeiro ensaio na Brandoa. Ainda são capazes de me agarrar e deixar totalmente surpreso? Não. E eles importam-se com tal? Zero. E é assim que deve ser! Considero que não lhes é dado o devido valor, e que a “cena” portuguesa os odeia porque são o que são: enormes.

Mas, não querendo fugir mais do que já fugi: “Sin/Pecado” e o momento do corte com o Passado. Como já se entendeu, e bem, tenho o “Wolfheart”, quiçá, como o epítome da criação Moonspelliana, in a way. Marcou o Heavy Metal nacional em geral, e a cena Black Metal em particular – por mais que muitos tentem passar uma esponja no nome da banda, e muitas vezes se esqueçam de os colocar lado a lado com Decayed e Filii no que às bases do Black Metal nacional se refere. É triste, é insultuoso… é desnecessário. Ao contrário das outras duas bandas, os Moonspell decidiram arriscar e seguir a linha que mais lhes dizia, que mais apelava a cada um daqueles músicos.

Os membros da banda nunca esconderam que as suas influências musicais vão muito mais além dos clássicos Bathory e Celtic Frost, e este álbum vem mostrar isso muitíssimo bem! É, ainda hoje, o álbum a que mais vezes regresso. Usando uma expressão deveras moderna: "bateu imenso" quando saiu! Ahahah juvenil! Mas sim, foi álbum que a início me fez questionar que raio havia passado com a banda, mas que assim que foi totalmente assimilado, passou a ser o favorito! Porventura se deva ao facto de, também eu, me situar num espectro bastante largo de adoração musical (Depeche Mode… há anos em escapais). Recordo ver o clip da “Second Skin”, na RTP1, e não ser capaz de perceber se tinha gostado ou não! Talvez a edição, em Agosto do mesmo ano, do álbum único de Daemonarch, “Hermeticum”, tenha sido uma forma de fechar o ciclo à veia mais Black Metal visceral, sendo que o mesmo “tresanda deliciosamente” a Bathory. Deste modo a banda abriu portas a uma experimentação ainda maior, como se verificaria no seguinte trabalho, “Butterfly FX”.

“Sin/Pecado”: Mulher e Religião. Quebra de regras emanadas de uma (inexistente) entidade superior. Escuro, Denso, Penetrante – deveras óbvio… Sade – Acutilante, Perverso, Herege, Blasfemo. Caramba! Como me deleitei ao ler cada uma daquelas letras, cada um daqueles poemas, que tão bem descreviam aquilo que borbulhava na minha cabeça! Depressa me rendi ao álbum e, como já dito, tornou-se o meu álbum favorito da banda! Arrisco dizer que ainda hoje muitos torcem o nariz quando se debate a relevância deste conjunto de temas, especialmente quando o seu antecessor é, nem mais, nem menos, que o “Irreligious”! Sinceramente, duvido que a banda tenha tido, uma vez que fosse, dúvidas sobre se deveria, ou não, lançar este álbum! Neste aspecto ninguém lhes pode apontar o dedo, e a carreira da banda tem provado que barreiras não existem.

Mas este álbum… as vezes que a cassete gravada – sim, gravada – rodou; as vezes que eu próprio escrevi, ao som do mesmo, bardaridades que, naquele dia faziam todo o sentido; o inocente sabor de quebrar com as linhas estabelecidas por uma Sociedade que vive envolta numa completa e permanente depravação da Mente em detrimento de uma falsa salvação às mãos de um igualmente falso Deus.

”Eurotica, a Hell of a place!”

Retornando um pouco ao início: este será sempre, para mim, o álbum mais adulto da banda. Seja pelo tema, seja pela maturidade que retiro dos temas, sempre me soou ser o mais completo, o mais cheio, o mais equilibrado de todos os trabalhos. Poderá ser, também, o meu sentimento e ligação tão próxima do mesmo… maybe! De qualquer modo… brilhantismo e perfeição!

Obrigado.


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