Thragedium e o Fado da Nação

Editado há 20 anos (ainda que o álbum esteja referenciado como sendo de 2001. Expliquem-se, sff), “Thragedium XXIII” veio trazer, para o panorama da música pesada em Portugal, um novo tom de negro. De certo modo, a banda está um pouco por todo o lado. O recurso aos usuais instrumentos, aliado a outros, tipicamente portugueses, traz para a música dos Thragedium um “adocicado sabor”. Aquela guitarra portuguesa…

Que nós, portugueses, somos um povo intimamente triste e desiludido, não é de modo algum uma surpresa, mas posto em música torna-o ainda mais pesado. E é isso que a banda faz. Esta é a imagem de marca da banda: este Fado metalizado, que não é Fado, mas carrega, em si, o mesmo pesar e a mesma melancolia de um Fado. Deveras interessante. Esta sim, poderá ser a banda que replica, de um modo bastante honesto, o sentimento português.

Bandas como Sangre Cavallum ou Galandum Galundaina conseguem, com a sua música, pintar um quadro musical das regiões às quais pertencem as suas raizes, Thragedium faz o mesmo e fá-lo de uma forma imensamente elegante. Verdade seja dita, recordo que era recorrente sentir-me “em baixo”, como se diz, após cada audição. Mas se a Música não nos fizer sentir, não é Música, mas sim ruído com ritmo (e que me desculpem aqueles que se sentem atingidos com facilidade por palavras, opiniões e o raio).


Após a edição de “Theatrum XXIII” em 2001, a banda aguardou dois anos até lançar aquele que seria o seu 2.º trabalho, “Isolationist”, onde mantém a sua toada negra e depressiva (pode ser?) na sua Música. Isto é Doom, com aquele sentimento que só o Fado consegue transmitir. Podemos sim, em certos momentos, sentir um pouco de antigo Anathema, ainda que menos arrastada - será o “romantismo” da música que me remete para tal - mas dizer quer a sonoridade da banda se resume a tal, seria incorrecto. Há, aqui, algo único. Talvez por me conseguir rever nos sentimentos expressos na Música, faça com que os veja como a representação musicada, exacta, dos mesmos.

Há toda uma paleta de tons de negro, como já referido, que pinta a música da banda. Ritmos lentos, pautados por uma melodia e uma melancolia delicadas, como que uma belíssima tela. Ainda que não sejam um segredo, serão sempre um dos melhores “segredos” do panorama musical nacional. Há Folklore nacional… lindo! Os vocais limpos, naquela tapeçaria pesada, e a momentos progressiva, inicialmente não encaixavam na minha formatação, mas assim que assimilei todo o percurso da música, esta ganhou outra força.


Músico sempre presente, sempre participativo nos trabalhos da banda, é Fernando Ribeiro. Sobejamente conhecido como o frontman/vocalista/letrista dos Moonspell, empresta a sua voz a mais que um tema, e cada um deles ganha mais força, mais vida. As suas texturas vocais encaixam na perfeição com as do Nuno Cruz. São, aqui e ali, opostas: a Luz e a Escuridão.

Fui daqueles que ficou honestamente feliz e entusiamado quando leu a notícia acerca do regresso da banda! Há anos que se fala e se escreve acerca de um possível regresso, mas só hoje, 2020, tal se vai verificar. Novas criações musicais e apresentações ao vivo, é o que se deseja! Adorava ver estas músicas transpostas para um espectáculo ao vivo, e admirar até que ponto todas estas envolvências e ambiências funcionam nesse contexto. Vendo bem, não sei se quero. Há aqui demasiado sentimento de introspecção, de quase solidão, que tenho medo de como resultaria. Mas siga, venham os concertos e venha a música nova. Foram demasiados anos longe do público!

Thragedium Official Bandcamp Page



(Datado de 15 de Abril de 2020)










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