Mons Veneris – "Untitled" (2021, Signal Rex)

A minha "relação" com Mons Veneris é, desde o dia em que tomei contacto com o projecto, bastante flutuante. É músico que já tive oportunidade de ver ao vivo, como Mons Veneris, 3 vezes. Em diferentes encarnações já o vi mais algumas, mas centremo-nos em MV. Regressando um pouco atrás, de forma a explicar o porquê de recorrer ao termo "flutuante".

O músico por trás de MV é tudo menos linear e unidimensional; do Black Metal mais Raw, à "Construção Sinfónica dos Infernos", todo o espectro da claustrofobia do Black Metal é percorrido por esta entidade das profundezas. Dizer que tudo aquilo que este produziu é brilhante, seria mentira! Não considero que todo e qualquer trabalho seja o expoente máximo do Black Metal, ou das sonoridades mais pestilentas do sub-género, mas esse expoente máximo consegue ser atingido pelo músico, e este novo trabalho é mostra de um crescimento absurdo! Um dos músicos mais prolíficos do Black Metal nacional, numa incansável viagem pelas faces mais negras da mente humana, replicada em música, em sinfonias escuras e densas, pesadas e claustrofóbicas! A beleza da negritude, disposta diante dos nossos olhos… 

Mons Veneris - "Untitled" (2021)

Que o Black Metal recuperou muitos dos seus clichés, na última década (um pouco antes, quiçá), não é algo ao qual fiquemos alheios. Continuo a associar o género ao mesmo imaginário, e creio que assim será enquanto este me fizer sentido, e Mons Veneris sabe "viver" desses clichés sem cair em exageros ou sem dar aquela ideia de estar a forçar A ou B. Creio que me faço entender… 

Neste novo trabalho temos exactamente – ou não totalmente – o regresso a esses apontamentos, a essas linhas criativas, dos quais surge um trabalho que me faz repensar a opinião que tenho vindo a cultivar de há uns anos para cá: este rapaz é deveras soberbo naquilo que faz! Nunca fui, e nunca serei, como suponho já ter sido dado a entender, cego ao trabalho de Mons Veneris; mas de igual modo nunca tomarei toda a sua obra como excelente, se tal não for a minha opinião, ao contrário de muitos e muitos adeptos da sonoridade. A velha máxima dos anos 80 em Portugal, em que toda e qualquer banda / projecto dentro do espectro da Música Pesada deveria ser apoiado, por ser nacional, a mim nunca me agradou. 

Raios! Malha 2, minuto 5… PORRA! 

Mas como dizia: essa ideia de que o bom Metaleiro português é aquele que gosta de todo e qualquer banda de Heavy Metal nacional, perdeu-se lá atrás no tempo! Aquilo que temos aqui são dois temas, longos, que rapidamente nos envolvem e arrastam para um vórtice de negritude e aflição. De certa forma, sinto que conseguiu reunir todos os detalhes, apontamentos, que me agradam na música de Mons Veneris, e criar um todo bastante consistente! Tendo em conta que foi lançado no início do ano, esperemos que não se perca nos 11 meses que ainda nos faltam.

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