Reviews, Reviews, Reviews...

Uma das ideias que pus em hipótese, aquando da idealização da Fanzine, foi a inclusão de reviews. Para já, nenhuma das que já está concebida contempla qualquer artigo similar. Talvez no futuro. Mas tal não me impediu, em 2020, de aproveitar a disponibilidade que o Teletrabalho traz, e fazer um apanhado de lançamentos de 2020 e de anos mais recentes, que deixaram uma marca. Assim sendo, uma pequena série de reviews, desta feita dedicados exclusivamente ao Black Metal, como forma, quem sabe, se introduzir esta secção aqui no Blog. Veremos…

Ancient Necromancy (EUA) - "Diabolical Forest Alchemy" (2020)

Orquestrações soturnas, arrastadas linhas de teclado, todo um pesar pelo Ser, um desejo de Morte e um término para o Sofrimento. Ancient Necromancy, o trabalho do multi-instrumentista, Eldrinacht, na procura de salvação nos recantos da mente. Aperta-nos o peito, docemente; seus dedos, acariciam o pesocoço da sua próxima vítima.

A dor da visão visceral do fim da vida humana. O apagar da respiração, por entre gritos e gemidos de dor. A falta de compreensão da perversidade humana, que assenta no desejo de sangue e o fim da realidade. Estados Unidos da América e o crescendo de excelentes projectos associados ao Black Metal, neste caso a uma sonoridade mais crua e despojada de artifícios, não deixa de me surpreender. Ainda assim, e apesar da linha escolhida, Eldrinacht tem apontamentos que poderão, na minha perspectiva, diferenciá-lo de muitos dos outros.

O início, aquele Intro que prepara o caminho para o que lhe segue. Melancólica ambiência que preenche o ouvinte, nos leva de volta ao passado e aos anos 90, quando o recurso a teclas era recorrente e, na minha modesta opinião, uma mais-valia.

Ao longo de toda Demo estes pequenos detalhes estão sempre presentes. Esta não é, na sua totalidade, uma mera descarga de Black Metal, mas sim uma miscelânea de sonoridades, em que o Black Metal é o fio condutor, mas ao qual se acrescentam as linhas de teclas, escuras e densas, conectores apaziguadores da intensidade que o antecedeu e que, gradualmente, a ele retornam. A raiva que se liberta assim que se inícia novo ataque sónico, toda aquela paixão e ódio, num só plano físico. 2020 foi o ano que viu a entidade rasgar a terra que nos alimenta, o organismo vivo que nos sustém e ataca, com vista a este expelir de demónios internos, perturbações do Homem e a busca de respostas que acalmem os espíritos irrequietos.

Nithstang Productions, o parceiro do crime, da propagação da doença, o veículo das orquestrações. Calma, momentos acústicos aliciam-nos a um descanso, ao repousar a cabeça na erva molhada que nos abraça e nos traz paz. É Black Metal, é Ódio e Morte, é Desespero e Angústia, é Beleza e Paixão. Que nos arraste, com ele. É Dungeon Synth e o exaltar de fantasias de criança, de masmorras assombradas e monstros das profundezas. Sinfonias daqueles que por nós esperam…

Forbidden Tomb (Indonésia)

"Demo I" (Junho de 2020)

Uma das maravilhas da Música é a capacidade que esta tem de se multiplicar / replicar, independentemente da localização geográfica. Das gélidas terras da Noruega, às quentes pradarias dos EUA, o espaço físico não é um impedimento para a criação.

Um bom exemplo é o de Forbidden Tomb, originário da Indonésia, terra normalmente não associada ao Black Metal, mas que aqui mostra que a premissa apresentada logo ao início é real. Sem qualquer informação acerca do ano de criação ou nome do músico por trás do projecto, se bem que consegui encontrar alguma informação que o poderá ligar a outro projecto Black Metal: Lux Noctis – Funeral Tomb apresenta-nos aqui o seu Black Metal de veia mais Raw e despojado de elementos desnecessários.

Minimalista, diria, ainda que envolto em tremenda qualidade. Aquela melodia soterrada debaixo de escombros sonoros; as vocalizações arrastadas, aterrorizadoras; os riffs de guitarra… ad infinitum, como que em busca daquele ritmo hipnotizante. Não é um Black Metal particularmente rápido ou "violento". Vive de ritmos mid-pace e de atmosferas criadas a partir de todo o conjunto: instrumental + produção "pobre" + vocalizações.

A qualidade dos riffs, e do trabalho de bateria, fazem desta Demo o que ela é: um excelente pedaço de Black Metal. Composta por 4 temas, sendo que o último tem 44 segundos e funcionará, arrisco dizer, como um Outro. As restantes 3 não são longas, tendo a mais extensa menos de 5 minutos. São, portanto, 3 malhas bem condensadas de Raw Black Metal.

"The Prospector" (Julho de 2020)

2020 tem sido, sem dúvida, um ano bastante produtivo para o artista por trás de FT. Depois de em Junho editar a sua 1.ª Demo, desta feita avança para o 1.º Álbum. 8 temas, sendo que 2 são instrumentais / ambientais / outro. Não temos grandes novidades do anterior para este, essencialmente porque das já referidas 8 malhas, 5 transitam da 1.ª Demo.

Que podemos esperar das novas malhas? Mais Raw Black Metal de qualidade, atento a detalhes e com uma noção de dinamismo que não se vê em todos. O contraste entre momentos "a abrir" e outros, mais delicados e lentos, cria a tal vitalidade já muito referida. E aqui encontro um dos pontos mais interessantes deste projecto: ao invés de ser única e exclusivamente baseado em "tons" de agressividade, arrisca, resultando em diversidade.

Metal-archives

www.forbiddentomb.bandcamp.com

Lycanthropic Winter Moon (Portugal) - "Drinking Blood from the Moon's Chalice" (Demo 2020)

A última década tem sido, para o Black Metal português, das mais férteis de que tenho memória – não que tenha assim tantas décadas, mas percebeis o que quero dizer. A "cena" nacional tem vido a crescer e, felizmente, esse crescimento não se verificou somente ao nível do níumero de bandas, mas também na qualidade das mesmas. Das labels às bandas, dos eventos "especializados" a cada vez mais público a aderir ao género, é com gosto que vejo o género crescer. Incomodará alguns, tanto quanto me incomoda certos comportamentos / posturas… mas isso dava pano para mangas!

L.W.M. Os licantropos do Black Metal nacional. A única informação a que tenho acesso é a nacionalidade – portuguesa – já que tudo o resto parece envolto num imenso nevoeiro. "Nocturnal Wampyric Terror", editado em 2019 (pela banda, em Tape, pela Harvest of Death, em Vinil), foi o primeiro trabalho conhecido da banda. A este, seguiram-se duas Demos: "Nocturnal Wampyric Terror" – versão instrumental de 5 dos 6 temas o trabalho prévio – e "Fullmoon Sorcery", ambas em 2019. "Drinking Blood from the Moon's Chalice" é a mais recente Demo da banda, novamente editada pela Harvest of Death.

É uma colecção de 3 temas, sendo que o último é um longo Outro / Instrumental, onde o recurso a teclados aguça, ainda mais, a faceta soturna e sanguinária desta Demo. Este é outro dos projectos que vive na "clandestinidade". Informação, há pouca, acesso à mesma parece-me ser igualmente reduzido – se possível, sequer – toda a aura que se cria em torno destas entidades, ajuda a que o público se sinta aliciado por estes.

Por vezes, não rara, a qualidade não corresponde ao hype que se cria, caindo o ouvinte numa desilusão tremenda. É o caso? Não, de modo algum. Ao longo destes 2 + 1 temas, a banda guia-nos por florestas escuras e cerradas, em que o bafo quente do Lobo se sente a cada passo que damos. Há largos anos que vemos o crescimento da "cena" nacional de Black Metal, disso não há dúvida.

Aliado a esse crescimento interno, vemos um aumento do interesse / entusiasmo da parte do fã estrangeiro, pelo que se faz em Portugal. Não deixa de ser um motivo de orgulho que a nossa música seja tão acarinhada por pessoas de países que, à partida, seriam melhores que nós. Mas à partida por…? Porque o mundo do Metal Extremo não deixa de estar restringido (?) a clichés e a ideia pré-concebidas, que moldam o modo como olhamos para o mesmo. Metal Extremo ou somente o Black Metal... L.M.W. e o seu Black Metal, tão romântico e tão gélido.

Metal Archives


                                                      

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