Utopia Platafórmica

5 Músicos / 5 Questões

Como dito semana passada, a Fanzine passaria a Webzine, ainda que mantendo a sua existência como "veículo de papel". Esta mudança pretende que a mesma chegue a mais e mais pessoas, já que mais facilmente o pessoal lê algo online, que adquire uma revista amadora. E nem me refiro ao gasto monetário, mas sim à facilidade que existe no ler online.

Em paralelo com este desejo que o trabalho chegue a mais pessoas, disponibilizo N entrevistas feitas ao longo deste quase 1 ano, que me custa tanto ter "arrumadas a um canto".

Assim sendo, Senhores e Senhoras, deixo-vos com a 1.ª Entrevista do 1.º Volume da Fanzine "Utopia Platafórmica" (em Língua Portuguesa e Línguas Inglesa).


EDITORIAL

Bem-vindos sejam, a mais uma arriscada aventura no mundo das Fanzines e da opinião musical! Depois de duas encarnações prévias – "Abasy" e "Rock em Chamas" – com mais ou menos sucesso, esta "Utopia Platafórmica" nasce de um Blog que, por sua vez, nasceu do gosto pela Escrita e pela Música, e pouco mais há a dizer. Que se procura com esta publicação? Poder partilhar opiniões, novas – e velhas – descobertas, ter a oportunidade de colocar questões a músicos que, com o seu trabalho, me transmitem algo, e fazer toda essa informação chegar a vós!

Não se procura reinventar a roda ou esquematizar todo o género do Heavy Metal, nem sequer dar "lições" sobre A ou B. Num género musical tão vasto como aquele em que nos inserimos, a diversidade é, mais que presente, desejada! Seja evolução musical ou um recuperar de velhas premissas, por estas páginas passarão bandas novas e velhas, músicos de hoje e de ontem… um pouco daquilo que a mim me faz SENTIR. Ao contrário do Blog, esta Fanzine será (quase) exclusivamente dedicada ao Black Metal, dos 80 aos dias de hoje, seja a Música ou a perspectiva dos músicos acerca do género e de toda a "estrutura" do mesmo.

Há que dar uma percentagem da inspiração – se não toda –  ao Paulo Rui (Besta, Redemptus, EAK e o canal do YouTube, "Ainda há Tempo") que, com a rubrica "555", me influenciou a criar este modelo. Não nos conhecemos, pelo que isto poderá soar deveras estranho e descabido, mas foi a partir dessa rubrica que decidi avançar, não com o modelo que queria inicialmente concretizar, mas com algo diferente.

Esperando que os leitores apreciem o trabalho e conceito, conto não ficar por aqui, apresentando cada vez mais: entrevistas, reviews, artigos, mais Black Metal, e um agradecimento, desde já, a todos aqueles que perderem uns minutos do seu dia a folhear este trabalho.

 5 MÚSICOS / 5 QUESTÕES

A base desta edição da Fanzine será: 5 questões, colocadas a 5 músicos de Black Metal. 5 perspectivas diferentes da mesma realidade. De modo algum se procura aquele que vive o Black Metal mais pelas "regras", nem sequer se pretende criar uma hierarquia. Que se pretende, então? Se há coisa que sempre me atraiu no género é esse viver no limite do Musical / Espiritual.

Muitos músicos serão "acusados" de não viver o género como o mesmo pede, de se servirem deste para chegar a palcos maiores, de se venderem ao público e às editoras; mas outros haverão que, ao contrário dos referidos, se mantém fiéis às premissas pelas quais se escreveram as primeiras existências do Black Metal. Nunca houve, na minha opinião, outro género / sub-género / whatever, do Heavy Metal que lidasse com tantas camadas, tantas realidades, como o Black Metal.

A ideia de Trve Kvlt, a mim, faz-me alguma confusão, sinceramente. Que é, afinal, ser Trve Kvlt? Essência? Produção? Alguma característica intrínseca à música? Só 66 Demos? Não dar concertos? Não sei, desconheço, ignoro… tenho a minha opinião sobre o que é, e como deve ser o género, mas arriscaria cair nos mesmos clichés que outros tantos insistem em alimentar.

Assumo que, em mais de uma situação, dei por mim a defender argumentos que no Passado considerei como absurdos. Sinal da idade? Um "cair na real" e perceber em que assenta, realmente, o Black Metal, como fenómeno musical e espiritual? Não sei…

Mas, tal como dito ao início, de modo algum procuro educar quem quer que seja acerca de A ou B. Quem sou eu para tal? Também não quero que esta Zine seja unicamente um publicar de entrevistas, reviews e / ou artigos em geral. Não é isso que procuro na imprensa que leio, nunca seria esse o caminho pelo qual optaria, mas um passo de cada vez, que Roma não se fez num só dia…

Mas olha que para arder…

Espero, mais uma vez, que apreciem o trabalho que vos apresento. Espero, igualmente, conseguir que esta publicação tenha um futuro e seja vista como viável. Deixo-vos com 5 Questões / 5 Músicos.


CONJURO (Barcelona)

Invocado em 2011, Conjuro conta até ao momento com 3 Demos ("El Culto" (2011), "II" (2012) e "La Fe de Dios Aborrecida Hasta Mas Allá de la Muerte" (2017). Desde então, o trio catalão não deu sinais de vida, tendo decidido espalhar a sua mensagem através de outros colectivos como Nigromancer, Atonement ou Evilucifer S.S.                                                             

Que papel desempenha o Black Metal na tua vivência diária? Como encaixa na tua perspectiva de ver o Mundo e a Vida em geral?

Na verdade, tento separar o Black Metal das coisas comuns da vida, porque são duas coisas totalmente diferentes e têm pouco em comum. O Black Metal é um sentimento interior, que vive dentro de nós e que traz à tona o que há de melhor e de pior em cada um de nós. Vou-te dar um exemplo. Quando vou a uma casa de jogos ou a um bar onde tocam Metal, não espero que toquem Black Metal underground porque não vejo muito sentido nisso, já que vou a esses lugares para me divertir a ouvir os temas típicos do Heavy, Thrash ou mesmo um pouco de Death Metal ou Black, mas não espero, ou quero, que passem bandas como Beherit, Blasphemy, o primeiro de Samael, Profanatica, Sarcófago, o primeiro de Rotting Christ ou Necromantia, já que essas bandas tocam um Black Metal tão excelente , cru, escuro e oculto que prefiro ouvi-lo em casa, na solidão do meu quarto. Por outro lado, não me importo de ouvir Venom, Nifelheim, Sabbat (jap), Celtic Frost ou Possessed num bar. Não sei se percebes a diferença, porque a mesma coisa acontece comigo no dia a dia.

As premissas pelas quais se "guiavam" aqueles que deram origem ao género – 1.ª ou 2.ª vaga, como preferires – ainda persistem hoje, naqueles que criam?

Obviamente o tempo passa e as circunstâncias mudam e, nisso, a música em geral não é exceção, excepto (perdoa a redundância) que um LP, CD, Demo ou o que quer que seja, uma gravação, uma reminiscência do Passado que podes visitar e ouvir sempre que quiseres. E não só a música é uma expressão gravada do Passado, mas também a atmosfera, a época em que foi feita, a idade e a personalidade dos músicos que a criaram e até mesmo o equipamento que foi usado para a gravação. Vejo um LP ou uma Demo como um todo, não só as canções, mas também a capa, as fotos do grupo, os títulos das canções etc ... porque é um reflexo do todo que representa um grupo ou um álbum específico. Dito isso, acho que a forma mais pura do Black Metal foi a 2.ª Vaga, com bandas como Samael, Necromantia, Sarcófago, Blasphemy, Necro Schizma, Parabellum, Abhorer, Rotting Christ, Beherit, Mortuary Drape, Sathanas etc…. Os criadores do estilo foram Venom, Bathory, Slayer (antigo), Hellhammer, Possessed e companhia, mas é claro que influências eram diferentes, tal como a visão, além do facto de que eles tiveram que começar do zero, e não considero que procuravam a radicalidade espiritual que a 2.ª vaga tanto perseguiu. Esta é a minha visão

Que peso tem a vertente mística do Black Metal no momento de criação? Há essa conexão com a linha espiritual?

Acredito que a Música é a expressão máxima da Arte. Uma das razões em que me apoio para justificar a afirmação é: podes comparar a Música com outros tipos de expressões artísticas como Teatro, Arquitectura, Escrita, Pintura etc ... fisicamente, a Música só existe na forma de ondas que os nossos ouvidos captam e que o nosso cérebro interpreta. É algo que não podemos ver (capas, fotos etc, são apenas pequenos acessórios) ou segurar em nossas mãos, é algo tão abstracto que por si só tem um alto grau de espiritualidade, e se a isso somarmos p facto de que pode ser reproduzido, tanto em disco gravado como em concerto, então tudo isto adquire uma grande dimensão, pois está relacionado com a forma de interpretar e tocar. De todas as vezes que tive a oportunidade de ver uma banda de Black Metal, do meu agrado, ao vivo, a convicção dos músicos na execução de suas músicas tem um papel importante. Quantas vezes vimos bandas que a música pode ser boa e da qual nós gostamos , mas ao vivo estragam tudo pela falta de atitude em relação ao que tocam? Portanto, espiritualidade é um ingrediente fundamental e essencial em qualquer grupo ou projeto de Black Metal. Claro, cada um de nós tem preferências e gostos particulares, bem como a nossa própria espiritualidade, mas acho que há um nexo comum geral que faz com que as bandas mencionadas acima nos levem a áreas profundas dentro de nós mesmos, transportam-nos às nossas entranhas.

Como vês o panorama Black Metal actual? És da opinião que o género não é, hoje, mais do que um género musical sem essência alguma ou, pelo contrário, vê-lo como uma realidade fiel a princípios?

Bem, tenho que admitir que não estou muito actualizado quanto a novas bandas, também é verdade que são milhões e me recuso a perder tempo e conhecer cada uma delas, pois a maioria não me traz nada de novo nem especial. Admito que prefiro ouvir os meus discos antigos e Demos e EPs das bandas que mencionei anteriormente, essas bandas foram a base da minha formação no Black Metal e nunca poderão ser superadas, pois foram os pioneiros do género em todos os seus aspectos . Suponho que haverá tudo como em todos os estilos: bandas que não têm sentido de existir, bandas que levam o género a sério, mas cuja proposta musical não é do meu gosto, ou bandas de merda que não valem nada. Uma coisa que odeio é a comercialização da música Existem bandas em que se percebe, de uma forma muito desavergonhada, que tentam capturar um determinado tipo de ouvinte ou público, pondo de parte a hipótese de satisfazerem os seus desejos criativos. Mas hey, é um assunto ao qual, no fim de contas, não dou muita importância, em muito por considerar que não vale a pena perder tempo a pensar em tal. Cada um faz aquilo que mais lhe agrada. Bandas actuais que gosto, bem, não há muitas, mas digo-te já que não estou muito atualizado mas: VOMITOR, TOMB (Malásia), SACROCURSE, INFERNAL CURSE, PROPHETS OF DOOM, EXPULSED ANGEL, MORBOSIDAD, NECROMANTEION, NEBIROS, PERVERSOR, NECROMANTE MALOKARPATAN, NECROS CHRISTOS, MANTICORE e alguns outros que continuam a alimentar o meu interesse por esse tipo de Metal sombrio e blasfemo.                                                                        

Que te motiva, hoje, a fazer Black Metal?

Infelizmente não houve muitas oportunidades de tocar Black Metal nos últimos anos, embora tenha o consolo de que o meu tempo com DEMONIC WAR foi muito destrutivo. É verdade que ATONEMENT me mantém muito ocupado e é um outro tipo de Metal, mas também não conheço muitas pessoas com uma visão de Black Metal semelhante à minha na área de Barcelona, sendo que por enquanto me limito a fazer sessões satânicas com NIGROMANCER. Gostaria que algo mais concreto pudesse ser feito (quero dizer, ensaiar regularmente e lançar Demos de melhor qualidade), mas no momento é o que é. Uma coisa posso garantir-te: a chama do Black Metal nunca morrerá dentro de mim. Obrigado pela entrevista e boa sorte com a Zine.

Conjuro Bandcamp

Conjuro Metal-Archives



English Version

Invoked in 2011, Conjuro has so far had 3 Demos ("El Culto" (2011), "II" (2012) and "La Fe de Dios Aborrida Has ta Mas Allá de la Muerte" (2017 ). Catalan trio showed no signs of life, having decided to spread their message through other groups such as Nigromancer, Atonement or Evilucifer S .S .

What role does Black Metal play in your daily experience? How does it fit with your perspective of seeing the World and Life in general?

In fact, I try to separate Black Metal from the common things in life, because they are two totally different things and have little in common. Black Metal is an inner feeling that lives within us and brings out the best and the worst in each of us. I'll give you an example. When I go to a game house or a bar where they play metal, I don't expect them to play underground black metal because I don't see much sense in that, as I go to those places to have fun listening to the typical themes of Heavy, Thrash or even a little bit of Death Metal or Black, but I don’t expect, or want, bands like Beherit, Blasphemy, the first of Samael, Profanatica, Sarcófago, the first of Rotting Christ or Necromantia, since these bands play such excellent Black Metal, raw, dark and hidden that I prefer to hear it at home, in the solitude of my room. On the other hand, I don't mind listening to Venom, Nifelheim, Sabbat (jap), Celtic Frost or Possessed in a bar. I don't know if you understand the difference, because the same thing happens to me on a daily basis.

The premises by which those who gave rise to the genre were "guided" - 1st or 2nd wave, as you prefer - still persist today, in those who create?

Obviously time passes and circumstances change and, in that, music in general is no exception, except (forgive the redundancy) that an LP, CD, Demo or whatever, a recording, reminiscent of the Past that you can visit and listen whenever you want. And not only is music a recorded expression of the past, but also the atmosphere, the time it was made, the age and personality of the musicians who created it and even the equipment that was used for recording. I see an LP or a Demo as a whole, not only the songs, but also the cover, the photos of the group, the titles of the songs etc ... because it is a reflection of the whole that represents a specific group or album. That said, I think the purest form of Black Metal was the 2nd Wave, with bands like Samael, Necromantia, Sarcófago, Blasphemy, Necro Schizma, Parabellum, Abhorer, Rotting Christ, Beherit, Mortuary Drape, Sathanas etc…. The creators of the style were Venom, Bathory, Slayer (old), Hellhammer, Possessed and company, but it is clear that influences were different, such as the vision, in addition to the fact that they had to start from scratch, and I do not consider that they were looking for the spiritual radicalism that the 2nd wave pursued so much. This is my vision.

What weight does the mystical aspect of Black Metal have at the time of creation? Is there a connection with the spiritual line?

I believe that Music is the maximum expression of Art. One of the reasons I support myself to justify the statement is: you can compare Music with other types of artistic expressions such as Theater, Architecture, Writing, Painting etc ... physically, Music only exists in the form of waves that our ears catch and that our brain interprets. It is something that we cannot see (covers, photos etc, are just small accessories) or hold in our hands, it is something so abstract that in itself it has a high degree of spirituality, and if we add to that the fact that it can be reproduced , both in recorded disc and in concert, then all this acquires a great dimension, because it is related to the way of interpreting and playing. Of all the times that I had the opportunity to see a black metal band, to my liking, live, the conviction of the musicians in the execution of their music plays an important role. How many times have we seen bands that music can be good and that we like, but live spoil everything for the lack of attitude towards what they play? Therefore, spirituality is a fundamental and essential ingredient in any Black Metal group or project. Of course, each of us has particular preferences and tastes, as well as our own spirituality, but I think there is a general common nexus that causes the bands mentioned above to take us to areas deep within ourselves, transport us to our own entrails.

How do you see the current Black Metal panorama? Are you of the opinion that the genre is, today, more than a musical genre without any essence or, on the contrary, see it as a reality true to principles?

Well, I have to admit that I'm not very up-to-date on new bands, it's also true that there are millions and I refuse to waste time and get to know each one, since most of them don't bring me anything new or special. I admit that I prefer to listen to my old records and Demos and EPs of the bands I mentioned earlier, these bands were the basis of my formation in Black Metal and can never be surpassed, as they were the pioneers of the genre in all its aspects. I suppose there will be everything as in all styles: bands that have no sense of existence, bands that take the genre seriously, but whose musical proposal is not to my taste, or shit bands that are worthless. One thing I hate is the commercialization of music There are bands in which it is perceived, in a very shameless way, that try to capture a certain type of listener or audience, leaving aside the chance of satisfying their creative desires. But hey, it's a subject that, after all, I don't give much importance, considering that it is not worth wasting time thinking about it. Each one does what most pleases you. Current bands that I like, well, there aren't many, but I'll tell you since I'm not very up to date but: VOMITOR, TOMB (Malaysia), SACROCURSE, INFERNAL CURSE, PROPHETS OF DOOM, EXPULSED ANGEL, MORBOSIDAD, NECROMANTEION, NEBIROS, PERVERSOR NECROMANTE MALOKARPATAN, NECROS CHRISTOS, MANTICORE and some others that continue to fuel my interest in this type of dark and blasphemous metal.

What motivates you, today, to make Black Metal?

Unfortunately, there have not been many opportunities to play Black Metal in recent years, although I have the consolation that my time with DEMONIC WAR was very destructive. It is true that ATONEMENT keeps me very busy and is another type of Metal, but I also don't know many people with a Black Metal vision similar to mine in the Barcelona area, and for the time being I just do satanic sessions with NIGROMANCER. I wish that something more concrete could be done (I mean, rehearse regularly and release better quality Demos), but for the moment it is what it is. One thing I can guarantee you: the flame of Black Metal will never die inside me. Thanks for the interview and good luck with the Zine.





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