Um regresso tardio...

Afastamentos forçados são sempre uma chatice. A vontade é sempre de manter a actividade, de constantemente apresentar mais e melhor, mas a vida destinada ao Proletariado é outra.

Trago-vos 3 lançamentos novos, os 3 pela nacional Signal Rex, e os 3 bem distintos uns dos outros: Nigrum Pluviam, Ruac Raah e ARNA. Desde já o meu agradecimento à Signal Rex pela atenção e, acima de tudo, pelo constante fluxo de Black Metal de elevada qualidade... venha o próximo IRM, sff ahahah

De seguida... Black Metal.

Nigrum Pluviam – "Eternal Fall into the Abyss" (2021)

O Black Metal é dos géneros musicais que mais funciona em forma de matilha, de certa forma. A tendência à formação de grupos, de colectivos, de cultos assentes em premissas transversais a todos aqueles que fazem parte deste, é algo que se vê desde que na Noruega, no final dos anos 80, um grupo de jovens encetou uma caminhada que culminou em actos que deveriam ser reprovados por todos aqueles que com o género musical se identificam. Sediados em terras gaulesas (ah saudosas LLN), e a par de VzörbrëzV, Mörmoo, Morteharas, Nözaakr, Atrium Malum, Mürmurio, Concordia Diaboli e Sräthr Kraïhuas, compõem o colectivo Garde Noire.

2021 vê a chegada do primeiro longa duração ("Eternal Fall into the Abyss"), pela nacional Signal Rex, e segue a linha dos trabalhos anteriormente editados ("Mörmoo / Nigrum Pluviam", de 2019, e "Lueur Jonchée d'ombres Pour l'Éternité", de 2020): uma negra melancolia, uma soturna desolação do Ser. Toda a composição assenta numa produção crua e primitiva (tão em voga na actualidade), a qual "emana" ambiências densas e sombrias. O ritmo lento e quase fantasmagórico é, de certo modo, a estrutura de Nigrum Pluviam, quem tem em Kraëh Määtruum o timoneiro.

É a experiência deste permite que tenhamos detalhes bastante enraizados nas franjas mais negras e infernais do Dungeon Synth, que quando combinados com riffs melódicos q.b., resultam numa atmosfera muito reminiscente das LLN. Se prestarmos um pouco de atenção à realidade que nos é apresentada por NP, depressa percebemos que há uma decisão de replicar aquilo que muitos dos actos deste infame (mas genial) colectivo concebeu: a imagem de realidades medievais, masmorras imensas, a Escuridão, o sofrimento humano… infelizmente não consegue atingir o nível destes, ficando um pouco aquém. Ainda assim, um lançamento com vários pontos de interesse e que vale a pena investigar.


Ruach Raah – "Misanthropic Wolfgang" (2021)

Se há coisa que me orgulha, como fã acérrimo de Black Metal, é saber que a nossa cena (este termo…) cresceu de tal forma, que facilmente faz frente a outras potências mundiais do género. E, de certo modo, esta analogia mais belicista coaduna-se bem com a imagem que pinto de Ruach Raah. War Black Metal? De forma alguma. Então? Há algo no Black Metal desta dupla que nos "embebeda" de estamina e sede de sangue. Umas elevam-nos a estados mentais superiores, outras alimentam o lado animalesco do Animal Humano.

3.º álbum, e desta feita pela Signal Rex. Inegável o roster que este pessoal continua a construir. Já o disse várias vezes, e nunca com a intenção de receber algo… mas se é bom, é bom. Não andemos com merd@s, sff.

A dupla continua a destilar Black Metal odioso, sedento de sangue e carne, totalmente possuído por deidades infernais e sem misericórdia. Há Punk e Black Metal, há uma mescla imensamente equilibrada, o que nos leva a uma estrutura agressiva e punitiva! Balaclavas e uma postura de desprezo por tudo e todo, o cerne da entidade criativa destes senhores, que no final nos dão este petardo! A fórmula é simples, e talvez essa seja uma das facetas mais positivas da música deste Ruach Raah: a simplicidade, que se revela assim que carregamos play e a cassete começa a rodar! Não há atmosferas, não há floreados ou detalhes bonitos! Há nojo e vómito, há agressão física e o Punk, aquele sueco, talvez. Muitíssimo curioso de vê-los ao vivo… Invicta Reqviem Mass 2022, quiçá? Este pessoal tem ar de perigoso, e transmite-o através do Black Metal. Fuck…

Ruach Raah Bandcamp

Arna – " Dragged to a Lunar Grave" (2021)

Descobri Arna por intermédio de um amigo cujo gosto pelo Black Metal é imenso, e com uma capacidade de encontrar pérolas onde quer que seja! Carreguei play e concentrei-me. Por vezes não é fácil, com o trabalho, entrar naquela mood em que conseguimos absorver a música e a dinâmica da criação artística, mas a música rodou enquanto trabalha em milhentos documentos, e dei por mim a dar mais uma volta aos 4 temas (não chega a 30 minutos). Arna é uma extensão da entidade humana a que chamamos Sanguinous Moth (Vampyric Winter), que em 2019 encetou esta aventura (entrevista em breve, estejam atentos). Em 2021 solicitou auxílio a Morthalion, e assim nasce este "Dragged to a Lunar Grave".

Não soava, de início, ao "meu" Black Metal. Parecia demasiado moderno e limpo, de "esquinas areadas" e de produção cheia. De certa forma, não se insere na mesma linha de Obskuritatem, por exemplo, mas está longe de uns Watain (isto para tentar centrar estes Arna). Se prestarmos atenção vemos que temos um pouco de tudo: as vocalizações são ásperas e rígidas, há uma melodia que, felizmente, não se perde por trás de uma muralha de ruído caótico, há detalhes que dão à música uma dimensão épica (Enslaved ali pelo meio? Maybe), uma majestosa pintura. Black Metal que não perde a força, de início ao fim. Possante e imponente, fica desde já marcado como dos melhores trabalhos que 2021 viu no campo do Black Metal!







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