Not Enough - Slap na Face Hardcore... take it!

São tugas, estão em hiato - o que abriu caminho para Campfire "reservar" o seu lugar na cena Punk Hardcore nacional. Contam regressar, mas não sabem quando. Pode ser já ontem? Vá, não custa nada eheheh discurso directo - mas um tanto ou quanto atrasado...: NOT ENOUGH!

Boas, antes de mais. Um prazer, pessoal. Das primeiras coisas que me dissestes aquando do meu contacto, foi que NE estava a em hiato, sendo que os Campfire surgiram desse hiato, ou o hiato surge devido a Campfire (peço desculpa se estou a ser intrusivo, ou se esta informação foi tornada pública na altura, mas não recordo)?

Boas, antes de mais obrigado pelo convite. Bem o hiato surge numa altura em que Campfire já estava em estúdio e Not Enough estava numa fase em que achámos que a banda precisava de parar um pouco e apenas voltar a tocar quando tivesse material novo a apresentar. Curiosamente o ultimo concerto que ambas as bandas deram foi no mesmo festival, em dias seguidos.

Para aqueles que desconhecem o vosso percurso, para aqueles que desconhecem a banda, posso-vos pedir um pequeno resumo da (primeira) existência dos NE?

NE nasceu algures em 2015 meio que das cinzas de uma banda que eram os Just Say No. Basicamente eu (Félix) tinha umas quantas malhas feitas para essa banda e acabei por me juntar ao Flàvio e ao Quintans para compor e gravar mais algumas que acabaram por ser a nossa Demo (Our Own Fight). Entretanto estava difícil encontrar alguém com uma voz que encaixasse no tipo de som e acabei por ficar eu depois de gravar uma pré produção das musicas.

O vosso "Our Own Fight" rodou bastante deste lado (e vai rodando… mesmo). Relativamente curto, straight to the point, mas com uma bastante "pesada" carga melódica. Essa vossa capacidade de fazer esta ponte entre a Melodia e Peso é o resultado de que influências?

O processo de composição de NE vem muito de mim e do Quintans. Ambos temos muita influência do Hardcore dos finais dos 90 início de 2000 sendo se calhar Carry On a banda que nos aproxima mais em termos de som. Acho que a parte mais crua, mais youth crew ou naquela onda da Lockin Out vem da minha parte e o Quintans acaba por lhe dar aquela parte mais melódica. Sendo que o Flàvio acaba por ser a cola que une ambas as partes.

"Many times many chances past mistakes and some amendments / Still we fight for our believes inner struggles with some defeats / Prospering from mistakes passed / In this struggle we're built to last". A eternal mensagem de força e perseverança, certo? Por sua vez associada a esta outra, tão fomentada na cena Hardcore: "YOU'RE MY FRIEND, YOU'RE MY BROTHER / No matter the distance we'll stick together". Sempre vi o Hardcore como uma família muito grande. De que forma estas linhas reflectem a vossa ideia, vivência do Hardcore, e da nossa cena?

Bem na altura que escrevi essas letras eu estava a morar em Leiria apesar de vir bastante a Lisboa / Loures por ser desta zona. A Bonds por exemplo foi que meio inspirada na relação que tenho com o meu melhor amigo de infância e de apesar da distancia a que vivíamos estávamos lá sempre um para o outro nos momentos importantes. A Our Own Figh jà tem um caracter mais abrangente e fala das lutas que vamos tendo durante a vida e da forma como as queremos levar. E de apesar de nem sempre tudo correr bem o importante é não nos deixarmos ir a baixo e seguir em frente. O hardcore foi como uma escola para mim, cresci no meio, muitas das minhas amizades vêm dele.

Ao ler as letras do "Our Own Fight" consigo retirar alguma ideias da mensagem do mesmo (a constante luta do Ser contra as barreiras que lhe obstruem o caminho, sejam elas físicas ou metafóricas… as minhas desculpas se fiz uma anàlise péssima ahahah). Esta mensagem é transversal a toda a vossa obra?

Sim um pouco. Muitas das letras são inspiradas na minha própria vivência e das pessoas à minha volta, mas também da nossa sociedade e da maneira como a vemos.

Pouco depois de sair o EP, sai um Split (com ChaosxAD, Selfish & Scars of Babylon): "Enough Chaos and Selfish Scars". Como surgiu esta ideia? Suponho que as bandas com as quais ombreais, sejam bandas com as quais há pontos de contacto! Pena que, até ver, só tenhamos 9 músicas de NE… ou escapa-me alguma?

A ideia do Split surgiu um pouco da nossa parte. O Quintans e o Jorge (nosso baixista na altura) ambos tocavam em Scars of Babylon, o Flàvio tinha Selfish e ChaosxAD era uma banda de pessoal amigo que tocava bastante connosco. Inicialmente a ideia era fazer um split de NE com ChaosxAD mas todas a bandas tinham cenas novas pra por cá fora então decidimos que seria mais interessante um Split entre as 4 bandas. A parte de NE só ter 9 músicas e uma intro que gostamos de arrastar para queimar tempo foi uma das razões pela qual decidimos parar um pouco, já estava a ser difícil fazer shows com 15min de set.

Este modo de estar no Hardcore, que jà foquei acima, acaba por ser uma das bases estruturais mais forte do género. A nossa Sociedade, por sua vez, "não é muito Hardcore", se a virmos deste prisma. Como admirais, de fora, o estado da Sociedade Moderna?

Bem a sociedade moderna é uma sociedade em desconstrução. É difícil perceber como alguns temas que se pensavam estar a ir por um caminho evolutivo de repente parece que voltaram não sei quantos anos atrás e termos de voltar a travar as mesmas lutas e a reivindicar direitos que já tinham sido reivindicados anteriormente.

O contestar (seja o Poder ou as desigualdades e injustiças) sempre foi uma das premissas do Punk Hardcore. Sois da opinião que, ainda hoje, estas ideias movem muitos músicos a juntarem-se e, através da Música, contestar aquilo que consideram errado?

Sim de uma maneira geral apesar de alguns temas irem alterando consoante a época a musica e neste caso o Punk Hardcore sempre serviu como um elo de ligação e uma espécie de arma para vários tipos de luta.

É esse, no fundo, o papel do Punk Hardcore? Ser um "veículo de luta"? O Punk "jurássico" contestava, em terras britânicas, a Rainha e o poder instituído; em Portugal, que contestará o Punk Hardcore? Estamos assim tão no lodo, como já vi descrito?

Creio que o Hardcore serve um pouco como um espaço livre em que qualquer um pode se exprimir desde que seja de uma maneira construtiva e não ofensiva ou discriminatória. Uma espécie de safe space para aqueles que não se sentem seguros na sociedade que os rodeia. Em Portugal e no mundo em geral continuamos a ter temas como o Racismo, o Sexismo e a Xenofobia muito presentes. Isso não quer dizer que estejamos no lodo, mas ao contrário daquilo que alguns tentam dar a entender tem certas coisas que não podemos fechar os olhos e que têm de ser prevenidas.

E a pandemia? De que forma vos "bateu", como banda e como pessoas? Bem, Campfire agradeceu, não? Eheheh como foi, já agora, editar um álbum – eu precisa do palco, digo eu – e verem-se incapazes de o promover, de desfrutar dele em cima de um palco… deve ser, para um músico, um criativo, um estalo, não?

Pois essa parte ninguém tava a espera. O nosso álbum foi todo gravado antes da pandemia e os nossos 2 primeiros videos foram gravados semanas antes do primeiro lockdown. O ultimo concerto em que tocámos o álbum antes de sair, fizemos meio que um test drive das malhas, e tivemos bastante pessoal a dar-nos apoio. Infelizmente o mundo dos espectáculos parou, e meio que nos impossibilitou de promover o álbum como desejado. O João acabou por sair de Lisboa e voltar a Lourinhã o que nos dificulta um pouco as coisas, mas Já com NE sempre tivemos distantes uns dos outros e isso nunca nos impediu de seguir com a banda em frente. Agora é esperar para ver como isto corre e irmos arranjando maneiras de promover a banda sempre que conseguirmos.

Podemos esperar um regresso da parte de NE? Suponho que Campfire vos ocupe a criatividade e o foco, mas podem dar-nos alguma certeza (se bem que ninguém certeza do que quer que seja) acerca de um regresso? Já estou a querer saber demais, quiçá eheheh

O processo criativo de Campfire é um pouco diferente de NE. Em Campfire o processo de composição vem muito mais do Quintans e do Flávio e eu o Castilho somos o elo de ligação dessas ideias. NE irá voltar quando tivermos músicas novas e acharmos que é a altura certa para voltarmos. Todos nós temos outros projectos e por vezes é difícil conseguir ter tempo para todos.

Obrigado, mais uma vez, pela disponibilidade, paciência e entusiamo! Só falta o regresso às lides ahahah cumprimentos e até um outro dia!

Ora essa, o prazer é todo nosso. Esperamos nos ver, de preferência num palco algures por ai. Abraço.

Not Enough Official Bandcamp

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