Ründgard – “Stronghold of Majestic Ruins (Signal Rex, 2021)
Durante anos, o paradigma do Black Metal apontava quase exclusivamente para os países nórdicos. Anos antes da explosão norueguesa já a Europa de Leste e a América do Sul tinham soltado ao vento imensas sementes do que viria no futuro, foram as facadas e as queimadas que projectaram os focos para o que se fazia em termos de Heavy Metal Extremo. Assim sendo, sempre tomámos a Europa como o template para o género, por vezes ignorando aquilo que nos rodeia. Chegamos a 2021 e podemos assumir, com certezas, que o paradigma mudou, e o Black Metal tornou-se, ainda mais, um género sem uma “morada” certa. Que aporta isto ao mesmo? Uma diversificação como nunca antes vista; um crescimento do género; o expoente máximo da criação artística, livre. Foquemos, agora, a nossa atenção no Chile, e na sua crescente cena Black Metal. A Mahamvantara Arts Records, do Chile, mais especificamente de Valdivia, Los Rios, congrega em seu redor uma imensidão de bandas, de projectos, de artistas, de criadores, de músicos fiéis ao Black Metal e às suas premissas espirituais / religiosas. O termo “culto” não me soa adequado, mas podemos olha para esta como um conjunto de músicos que se uniram em volta de ideais muito específicos (que de certa forma falta ao género, na minha opinião).
Funeral Fullmoon, Mantiel, Winterstorm, Roman Monastery, Pyreficativm, Gryftigaen, Vel’Har e Ründgard. Estes são os nomes que compõem a M.A.R. neste momento, e é deste último que falamos. De referir que este pertence ao Pure Raw Underground Black Plague Circle, com as anteriormente referidas, e uma outra larga série de bandas. Lord Valtgryftake (13th Temple, Gryftigaen, Mantiel, Pyreficativm, Winterstorm, é a mente por detrás da Arte criada por Rundgard.
Mais que só música, qualquer um dos projectos deste Senhor são rituais de atmosfera, aquela emoção primordial e primitiva. Ründgard vive na simplicidade da melodia criada. Uma produção deveras “pobre” e “suja”, necessárias com vista a desenvolver a atmosfera que o criador procura! Há uma (honesta e sentida) colagem ao que se desenvolveu na década dos 90, a Era Dourada do Black Metal, e que hoje se replica na vastíssima quantidade de bandas / projectos que quase diariamente surgem por esse globo fora. Muito me satisfaz perceber que o preconceito (?) que durante muito tempo infestou o Black Metal quanto ao use de teclas / sintetizadores, caiu. Belíssimas melodias escuras e decadentes. Há, aqui, o desejo de conceber estruturas equilibradas e sólidas, com vista à criação de um todo: a melodia, bela e etéreo; a melodia, negra e assustadora. Esse equilíbrio é atingido! O ouvinte é levado, arrastado, hipnotizado, deixa-se levar pela panóplia de sons e... melodias. A agressividade despendida é, ela também, ofertada em quantidades exactas: nem demais, nem em falta. Ritmos lentos e hipnóticos, todo o trabalho de Ründgard se assemelha a um ritual!
As profundezas de uma qualquer gruta chilena vomitou sons do além, recepcionados por este Ser, este Artista, que os enviou na nossa direcção, para o seu belo, sádico, prazer.
Os meus parabéns à
Signal Rex por mais um tiro certeiro!
Minnesjord /
Teufelsberg (Signal Rex, 2021)
Falemos de um Passado recente: a Demo de Teufelsberg, “Ancient Darkness Thriumphant”, editada em 2020, é um petardo de Black Metal, tal como a Demo de Minnesjord, “Agrura”, de 2019. E que temos aqui? Portugal VS Polónia, Black Metal Style?! Tudo pela Signal Rex. Conteúdo? Let’s find out.
Ildjarn. Nome sonante da cena Black Metal. Alguma polémica pelo
meio, mas imensa transgressão musical. Aquela abordagem tão característica, ao
género, valeu-lhe imensa adoração por parte de músicos, e fãs, que desejavam
mais chama no Black Metal. Minnesjord, portugueses... desconhecidos, pelos
vistos, tomam as bases do Sr. Vidar Vaer, e pegam fogo à sua criação. Há aqui
um certo paralelismo com o Punk, diria. Não tanto em termos de sonoridade, mas
mais no sentido da atitude. De certa forma o Black Metal deve um pouco do que
é, ao Punk (perigoso). Podemos considerar Minnesjord como um caso “ignorado” do
Black Metal nacional? Ou simplesmente um que se prefere recatar nas sombras? A
nível sonoro estamos perante um conjunto de músicas que nos agridem e atacam,
do primeiro ao último segundo, sem piedade! É Black Metal, não haja dúvida
alguma disso... à semelhança do nome de onde retiraram o nome, a incessante
energia colocada na música não deixa margem para dúvidas: ódio é destilado de
cada poro, injúrias proferidas, e podres melodias tocadas. Até chegamos ao fim,
destroçados.
E de Portugal, seguimos para a Polónia, e para mais um projecto directamente associado à Signal Rex. Este duo polaco editou, como referido logo ao início, uma Demo em 2020, que deixou marca – pelo menos na besta que escreve estas palavras. Cada vez mais sinto que O Black Metal é aquele criado nos 90. Por mais que isto soe a conversa de velho e o raio que parta, a verdade é que a essência deste dificilmente conseguirá ser replicada – em muito devido a toda uma série de eventos, de realidades de então, etc, etc. – mas a sonoridade, essa, é eterna, e está ao alcance de alguns. “Ancient Darkness Thriumphant” deu a conhecer o som destes polacos, e este Split vem confirmar que há essa capacidade criativa que nos remete para o que foi. Ignoramos, assim, as construções artísticas do Séc. XXI?! De modo algum. Retiramos valor e relevância ao conseguidos pelos músicos de hoje?! Óbvio que não. Teufelsberg consegue, de forma bastante positiva, conciliar duas linhas musicais que se tocam, mas não se anulam: o clássico dos 90, e a modernidade do Black Metal que se manteve fiel a esses mesmos clássico. Não temos ambiências adocicadas, nem melodias hipnotizantes; temos, isso sim, Black Metal.
Estilisticamente
distintos, ambos nomes foram capazes de criar mais uma belíssima peça de Black
Metal, mais agressivo, mais melódico, mas sempre Black Metal.
English Version:
Ründgard – “Stronghold of Majestic Ruins (Signal Rex, 2021)
Funeral Fullmoon, Mantiel, Winterstorm, Roman Monastery, Pyreficativm, Gryftigaen, Vel’Har and Ründgard. These are the names that make up the M.A.R. at this moment, and this is what we are talking about. Note that this belongs to the Pure Raw Underground Black Plague Circle, with the aforementioned, and another wide range of bands. Lord Valtgryftake (13th Temple, Gryftigaen, Mantiel, Pyreficativm, Winterstorm, is the mind behind the Art created by Rundgard.
More than just music, any of this Lord's projects are rituals of atmosphere, that primordial and primitive emotion. Rundgard lives in the simplicity of the melody created. A truly “poor” and “dirty” production, necessary in order to develop the atmosphere that the creator is looking for! There is a (honest and heartfelt) collage to what developed in the 90's, the Golden Age of Black Metal, and which today is replicated in the vast amount of bands / projects that appear almost daily around this globe. I'm very pleased to realize that the prejudice (?) that for a long time plagued Black Metal regarding the use of keys / synthesizers, dropped. Beautiful dark and decadent melodies. There is, here, the desire to conceive balanced and solid structures, with a view to creating a whole: the melody, beautiful and ethereal; the melody, black and haunting. That balance is reached! The listener is taken, dragged, hypnotized, he lets himself be carried away by the panoply of sounds and... melodies. The aggressiveness expended is also offered in exact quantities: neither too much nor too little. Slow and hypnotic rhythms, all of Rundgard's work resembles a ritual!
The depths of some Chilean cave spewed sounds from beyond, welcomed by this Being, this Artist, who sent them towards us, for his beautiful, sadistic pleasure.
Congratulations to Signal Rex for one more accurate shot!
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